Vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim (roteiro) e candidato do Chile ao Oscar de filme estrangeiro, Una Mujer Fantástica (Uma Mulher Fantástica) é um excelente retrato de um drama social que poderia ocorrer em qualquer lugar do mundo, montado a partir de uma sólida construção feita pelo diretor Sebastián Lelio, contando com uma atuação de luxo de sua protagonista.
Marina (Daniela Vega) e Orlando (Francisco Reyes) estão apaixonados. Apesar da diferença de idade, eles fazem planos, vivem juntos e planejam o futuro. Após um jantar romântico, Orlando passa mal, chega a ser levado ao hospital por Marina, mas acaba falecendo por conta de um aneurisma. É com a morte de Orlando que testemunhamos as dificuldades de uma mulher trans na sociedade extremamente conservadora, onde a perseguição, desconfiança e nojo estão acima de tudo.
O ponto alto do filme de Lelio está na segurança com que caminha entre as ruas do preconceito de Santiago (mas que poderia ser em qualquer cidade do mundo). O filme dosa bem seus eixos narrativos, alternando o drama pessoal de Marina no inferno criado pelos familiares de Orlando – que não aceitavam o relacionamento – com sua luta para realizar seus sonhos. A partir da fotografia de Benjamín Echazarreta, temos vários close-ups que tornam-se essenciais para mostrar a forma como Marina busca enfrentar a intolerância.
A atuação perfeita e segura de Daniela Vega vira o principal atrativo para essa produção. Com boas linhas de diálogos e espaço de sobra para brilhar, a atriz teve ao seu lado um roteiro extremamente eficaz que toca em algumas feridas abertas e pouco discutidas no mundo contemporâneo, onde o pré-julgamento é visto como uma ferramenta válida em situações cotidianas.
Una Mujer Fantástica terá os cuidados da Sony em sua distribuição internacional. Mesmo cheio de méritos, considero difícil sua inclusão na lista final do Oscar, muito pelo próprio preconceito da comissão da Academia. De qualquer forma, estamos falando de um dos melhores filmes recentes do cinema chileno e da consolidação de Lelio como um nome de peso. Ótima pedida para uma reflexão.
NOTA: 7/10
One thought on “Una Mujer Fantástica (Uma Mulher Fantástica) – 2017”