Vencedor de seis kikitos em Gramado, Como Nossos Pais é o grande filme brasileiro de 2017. Dirigido por Laís Bodanzky, o longa apresenta uma proposta narrativa original e extremamente relevante, com total destaque para a discussão da identidade feminina na sociedade.
Em um almoço de família, Clarice (Clarisse Abujamra) revela que o pai de sua filha, Rosa (Maria Ribeiro), não é o homem que a criou durante toda sua vida. Chocada com a informação, ela acaba repensando sua vida e coloca em jogo seu trabalho e seu relacionamento com seu marido, Dado (Paulo Vilhena).
Faço uma divisão deste filme em dois momentos. Por mais que sejam distintos na forma de estruturação e apresentação ao público, a união deles é de fundamental importância para plena compreensão do desenvolvimento da trama. Em primeiro lugar, temos o choque causado pela surpresa. De maneira inteligente, Laís cria um almoço que pode ser o espelho de qualquer família brasileira – o que ganha pontos por mostrar que tal situação poderia muito bem ocorrer com qualquer pessoa. A revolta e o desespero de Rosa aos poucos criam os laços do segundo momento, que trata sobre a forma como ela mesma vê sua vida.
Rosa pode muito bem ser a voz de várias mulheres que sofrem diariamente com uma silenciosa opressão que coloca a mulher em segundo plano dentro da sociedade. É por isso que assistir a personagem de Maria Ribeiro questionar tudo que lhe incomoda – desde a rotina de sua atividade profissional até o fato de que apenas ela se dedica na criação de suas duas filhas enquanto o marido – um ambientalista – parte para viagens e reuniões na calada da noite – realmente tem um impacto positivo.
As atuações são ótimas, com destaque total para Abujamra e Ribeiro. A coleção de pequenos detalhes é fruto de uma montagem afiada, que capta muito bem recordações do passado (como o quadro do congresso que uniu Clarice com o pai verdadeiro de Rosa, presente na vida dos dois). Até mesmo a obsessão de Clarice com o cigarro é bem desenvolvida, já que começa como um mero elemento secundário e acaba se tornando elemento chave na união dos dois momentos de Como Nossos Pais.
Obviamente o filme desponta como grande favorito para disputar o Oscar de filme estrangeiro representando nosso país. No entanto, acredito que o comitê de seleção – o último bastião conservador dentro da Academia – possa deixar de lado o longa por conta do posicionamento do roteiro perante a questões delicadas. Isso não tira o brilho final de Como Nossos Pais, um filme extremamente relevante para discussões sobre assuntos tabus que podem ser iniciadas em casa.
NOTA: 7/10