Após assistir todos os nomeados ao Oscar de melhor curta deste ano, confesso minha surpresa com o brach responsável pela seleção. Desde a vitória de Toy Land em cima de Auf der Strecke, um dos melhores curta-metragens da história do cinema, passei a suspeitar dos métodos dos membros da seleção (algo que nunca foi claro como no branch de língua estrangeira ou de documentários). Havia estranhado o esnobe de dois curtas deste ano não foram indicados ao Oscar (The Rifle, the Jackal, the Wolf and the Boy e Nocturne in Black, que tiveram ótima repercussão na comunidade de curtas), mas a opção por continuar com a internacionalização da categoria deu muito certo!
O padrão dos indicados deste ano mostra o tom sentimental do comitê de seleção. Vamos aos indicados:
Ennemis intérieurs: Se construir um filme com apenas duas pessoas é difícil, criar um curta de qualidade é praticamente impossível. A produção francesa de Selim Azzazi é um tapa na cara da sociedade em um período onde discute-se racismo e islamofobia. A história ambientada na década de 1990 ocorre dentro de uma sala de entrevista. O interrogado (Hassam Ghancy) é um argelino que considera-se francês – tanto por ter vivido muito tempo no país quanto pelos seus costumes do dia a dia. O interrogador (Najib Oudghiri) é um burocrata do governo que aos poucos começa a jogar indiretas ao homem, criando grande confronto retórico. Tanto as feridas abertas da intervenção francesa na Argéria quanto a discussão sobre o terrorismo geram tensão extrema. O final é extremamente polido, e não tenho dúvida alguma que, caso adaptado para um filme, Ennemis intérieurs teria vasto sucesso. NOTA:9/10 IMDb
La Femme et le TGV: Produção da Suíça. Claro que a presença de Jane Birkin torna a distribuição mais fácil e acessível, mas o projeto não justifica os trinta minutos de rodagem. É o bom exemplo de um curta que muda sua estrutura para ocupar dez minutos a mais do que deveria. Em suma, a história trata sobre uma mulher que balança com orgulho a bandeira da Suiça toda vez que o trem da TGV passa na frente de sua casa. Sua personalidade e os motivo de seus atos não são explorados de forma satisfatória. Suspeito, no entanto, que o curta esteja na disputa do Oscar, já que o tom de comédia negra é típico desta categoria. NOTA: 6/10. IMDb
Silent Nights: O mais fraco da lista é o candidato da Dinarmarca, que também é o típico curta Oscar-bait, com uma história orquestrada em um fundo de melodrama genérico. Ao contrário de Ennemis intérieurs, Silent Nights abre espaço para um problema de nossos tempos (a crise de imigração na Europa) – mas distorce completamente a discussão para dar lugar a um romance típico de Hollywood. Todo o diálogo do filme é em inglês (mesmo assim não quero acreditar que esse curta tenha chances reais de premiação). NOTA: 4/10. IMDb
Sing (foto): Sem dúvida alguma o melhor curta-metragem deste ano, apesar de não ser o favorito ao Oscar. Tive a oportunidade de prestigiar este curta em seu lançamento, e fiquei impressionado com a grande iniciativa de distribuição desta bela produção húngara. Baseado em uma história real, o diretor Kristóf Deák mostra a entrada de Liza (Dorka Hais) em um coral de Budapeste. Durante as lições, ela se surpreende ao notar que vários colegas apenas fingem cantar. O desenrolar da história trata de temas como manipulação e corrupção. A grande relevância do projeto, no entanto, está em um final aberto, que propõe discussão dos temas abordados dentro da realidade de quem assiste o curta, algo muito raro nessa categoria. NOTA: 9/10. IMDb
Timecode: Com apenas quinze minutos, o diretor espanhol Juanjo Giménez Peña monta uma excelente alegoria para ressaltar a comunicação no século XXI. O filme é tomado de pequenas surpresas – por isso creio que o público que se interessar deva evitar ao máximo assistir qualquer trailer ou entrevista, já que cada segundo é precioso na montagem do retrato de Diego e Luna, dois seguranças de uma garagem que trabalham em turnos inversos e usam as imagens para criar uma conexão. NOTA: 7/10 IMDb.
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