Após uma década de controvérsias, Mel Gibson apresenta Hacksaw Ridge (Até o Último Homem, no Brasil), baseado na incrível história de Desmond Doss, primeiro objetor de consciência da história do exército americano a receber a Medalha de Honra por conta de seus feitos durante a Batalha de Okinawa, ocasião na qual salvou a vida de 75 companheiros.
A primeira cena do filme mostra que Gibson quis deixar claro desde os segundos iniciais que a guerra é o inferno. Sem qualquer contexto o espectador é lançado para o meio de uma batalha dos americanos contra os japoneses, com muito sangue e sofrimento. Logo após somos apresentados ao jovem Doss (Andrew Garfield), membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia que decide se alistar após ficar chocado com o ataque a Pearl Harbor. Logo que o Capitão Glover (Sam Worthington) descobre que Doss rejeita pegar em armas, ele dá a instrução para o comandante do batalhão, Sargento Howell (Vince Vaughn), tornar a vida dele em um verdadeiro inferno, na tentativa de fazer com que o rapaz desista do serviço militar.
Filmado na Austrália, Gibson toma uma posição extremamente conservadora na questão do uso do CGI. Para dar credibilidade à história que apresenta, ele preferiu usar os bons e velhos dublês aliado ao excelente trabalho do diretor de fotografia Duggan, do editor John Gilbert e do veretano Chris Godfrey (coordenador de efeitos especiais) para mostrar a carnificina do campo de batalha. Não existe nenhuma preocupação em dar uma versão light da guerra – e a constante violência e mutilação ganham tons ainda mais dramáticos com o desespero japonês nos dias finais da guerra. É na justaposição com a personalidade de Doss que Hacksaw Ridge ganha alma e constrói sua mensagem. Chega a ser estranho (e bizarro) pensar que o longa foi engavetado por vários executivos de Hollywood justamente por duvidar do potencial da história.
O roteiro do filme divide-se na atenção para a formação moral de Doss e na sua preparação para a sangrenta Batalha de Okinawa. O grande pecado, no entanto, está no fato de Gibson mostrar a entrada de Doss na guerra e pular diretamente para o gran finale. Em meio disso, vários fatos são resumidos e alterados para conseguir manter o filme em um tempo tolerável, pensando na viabilidade comercial. Neste sentido, Hacksaw Ridge não é a cinebiografia de Doss, já que descarta sua participação nas Filipinas e em Guam (onde ganhou a Medalha de Bronze). Mas é um filme sobre o episódio mais importante de sua vida, que por si só é extremamente notório.
Hacksaw Ridge entra na lista das ótimas produções sobre a Segunda Guerra Mundial. A sabedoria de Gibson em encerrar seu filme com depoimentos de Doss e de outros membros do exército que aparecem no filme aumenta ainda mais a imersão na história, deixando uma forte impressão final no público. A tradicional discussão sobre religião e guerra – duas palavras tão distintas mas que nos dias atuais são tão próximas – ganha vida a partir da paixão demonstrada pelo diretor sobre a história que tem em mãos.
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NOTA: 9/10
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