Os musicais ganharam força no cinema na década de 1930, muito por conta do Código Hays. Gerações foram influenciadas por artistas como Fred Astaire e Ginger Rogers – e o sucesso abriu espaço para evoluções e clássicos como Singin’ in the Rain, The Sound of Music e West Side Story. Nota-se, no entanto, que logo após o abandono do código de censura pelos produtores este gênero foi o que mais perdeu espaço no cinema. Com a necessidade do apelo comercial que explora violência e sexo atrás de mais espectadores, a inocência dos roteiros de décadas passadas ficou para trás (e as animações entraram para fechar essa lacuna de conteúdo familiar). Foi a partir de sorrisos espontâneos através desta saudosa inocência que digo que La La Land (distribuído no Brasil com o título La La Land: Cantando Estações), não é apenas o melhor musical dos últimos cinquenta anos. Estamos falando de um filme completo, inesquecível e que contém marcas que devem garantir seu espaço na lista das melhores produções desta geração.
São poucos longas que conseguiram marcar diretamente o público através de notas musicais. Ennio Morricone talvez seja o maior especialista neste quesito, com trilhas memoráveis para westerns e clássicos como Nuovo Cinema Paradiso; Bernard Herrmann para sempre será lembrado por Psycho, assim como Nino Rota por seus trabalhos com Coppola e Fellini. Na maior parte dos casos, no entanto, o impacto é passageiro. Poucos lembram da linda trilha de Charles Chaplin em Limelight, ou da qualidade da banda sonora de Dances with Wolves. Após encantar o mundo com Whiplash, o diretor Damien Chazelle reune-se novamente com o compositor Justin Hurwitz para exaltar a música. Com a marcante e viva ‘City of Stars’, temos a base para um registro
A brilhante introdução já mostra todo o potencial do filme: em um engarrafamento tipicamente californiano, a câmera desliza pela tela acompanhando a trilha sonora de cada carro. É então que a lentidão e o stress somem para dar vida ao ato inicial, com a música Another Day in the Sun. É lá que conhecemos nossos protagonistas: Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista que passa por vários problemas financeiros. Mia (Emma Stone) trabalha como barista nos estúdios da Warner. Os dois são sonhadores: ele quer honrar o jazz puro e abrir um local onde os músicos possam mostrar todo seu talento; ela quer ser atriz, mesmo após receber várias negativas de produtores de Hollywood. A química entre Stone e Gosling é visível. Chazelle aproveita para explorar duas vertentes diferentes a partir dos traços registrados nos primeiros minutos: enquanto Stone cativa com seu estilo despojado – essencial para uma atriz que tem a difícil missão de interpretar uma atriz, Gosling aparece como ponte para dosar o romance com um toque de humor.
A Los Angeles da fotografia de Linus Sandgren é linda. O sol brilha mais forte e o céu é todo estrelado. Para um musical que alterna entre o drama e o romance, não existe lugar melhor! Por duas horas o público é convidado a esquecer problemas pessoais e mergulhar em uma história leve, mas muito bem construída. Isso tudo torna a experiência de assistir La La Land no cinema maravilhosa, com sorrisos, emoção e até mesmo um convite para analisarmos como grandes decisões podem ter grandes consequências para o futuro. Ao mesmo tempo que o rolar dos créditos dá uma ponta de tristeza pelo fim de um filme tão bom, as duas músicas subsequentes dos créditos convidam para ouvir a trilha sonora novamente – e quem sabe até mesmo assistir ao filme mais uma vez. Não é a toa que La La Land é o maior vencedor da história do Globo de Ouro – e vai disputar com grandes chances todos os prêmios dos sindicatos e da Academia.
Uma celebração ao cinema clássico feito a partir da genialidade de Chazelle.
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NOTA: 10/10
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