Principal produção da divisão de documentários da Netflix em 2016, 13th é uma experiência necessária por vários motivos: desconstrói mitos, derruba barreiras – muitas vezes criadas por uma elite cheia de interesses secundários – e toca em feridas abertas. O principal interesse é descobrir o que há por trás do aumento da população carcerária nos EUA, fator que acaba resultando no aumento expressivo da prisão de negros por pequenos delitos – como porte de drogas.
1970 é o ‘ano zero’. Foi neste período que o presidente Richard M. Nixon autorizou a política de Lei e Ordem, iniciando sua chamada ‘Guerra às Drogas’ – com penas muito mais rígidas, que se tornaram ainda mais firmes com Reagan e Clinton. Por conta disso, o número de presos aumentou de 357 mil (1970) para 2 milhões e 300 mil (2016). Com a ajuda de vários notáveis, DuVernay estabelece um bom ponto na desigualdade gerada pelo sistema prisional.
A argumentação principal, no entanto, tem notórias falhas: a primeira delas é limitar a narrativa do período político até os anos Clinton. Na parte política, busca-se uma linearidade, articulando os presidentes (desde Nixon) com suas políticas anti-drogas, que acabam atingindo em cheio a população negra. O que é impressionante é o fato de que a população nas cadeias hoje é a maior da história nos Estados Unidos, mas ainda assim Ava DuVernay não parece disposta a criticar abertamente a gestão de Barack Obama. Ora, se Nixon, Reagan e Clinton tinham poderes para aprovar no Congresso as leis que moldaram todo esforço para reforçar a punição pela prisão, Obama não pode ser inocentado, até pelo fato de estar na Casa Branca desde 2008. Já na parte prática, a quase que total falta de articulação com o Movimento Black Lives Matter é estarrecedora. Alguns entrevistados chegam a mencionar o nome já na conclusão, onde a eficácia para a narrativa é praticamente nula. Além disso, o documentário não entra na discussão de medidas propositivas para tentar ao menos amenizar o drama diário estudado aqui – algo que considero uma grande oportunidade perdida.
Ava, por sua vez, não tem medo de apontar os culpados: a American Legislative Exchange Council, organização de gigantes do mercado dos EUA que faz intenso lobby político é desmascarada, expondo sua clara intenção de deixar as prisões cada vez mais cheias. Em tempo de corrida eleitoral, a diretora ainda aproveita para alfinetar Donald Trump e o Partido Republicano – representados por Newt Gingrich, que se esconde atrás da velha política de contenção de danos. Mesmo com suas falhas, 13th é praticamente uma aula sobre história, que mostra que os Estados Unidos estão longe de ser a terra perfeita, mito ainda propagado por muitos políticos. DuVernay e sua produção entram como favoritos aos prêmios de melhor documentário da temporada – resta apenas saber se a Academia continuará com sua política de esnobar a Netflix.
NOTA: 7/10
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