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Elle – 2016

Elle não é um filme comum. É o tipo de produção que faz o espectador se questionar a cada segundo, procurando entender uma série de decisões aparentemente inexplicáveis. Com uma trama central forte, o diretor Paul Verhoeven entrega uma histórica rica em conteúdo, com fortíssimo apelo emocional.

A introdução, por si só, é uma verdadeira aula de montagem. O simbolismo de um gato preto, com olhar penetrante, contrasta com o pavor sentido por Michéle (Isabelle Huppert) assim que percebe que um homem mascarado entrou em sua casa para lhe estuprar. A cena dura um minuto – e é revivida em outras três passagens do filme, nas quais a mulher tenta compreender o episódio. Ao invés de denunciar o caso para a polícia, ela passa a investigar por conta própria, tentando ligar pistas que são transmitidas pelo próprio homem que a violentou.

Com uma genialidade ímpar, Verhoeven aos poucos revela o impacto psicológico do estupro em Michéle. Inicialmente ela compra um martelo e gás de pimenta para se proteger, mas aos poucos deixa de se preocupar com sua própria segurança. A narrativa é desafiadora, já que é impossível prever o passo que será tomado pela personagem de Huppert, que entrega uma atuação segura e digna de louros.

Elle é muito mais do que um jogo gato-rato. Envolve emoção, violência e revanche. A descoberta do real abusador é repassada bem antes da conclusão, o que evidencia o material impecável que o diretor tinha nas mãos. Eventualmente a lista de candidatos começa a ficar restrita: Patrick (Laurent Lafitte), seu vizinho, é casado com uma católica praticante (Virginie Efira); Richard (Charles Berling), busca aceitação e quer mostrar que é muito mais do que um simples escritor; Robert (Christian Berkel), que transa eventualmente com Michele, é casado com Anna (Anne Consigny), parceira de negócios da protagonista.

Aos poucos nota-se um tom de humor ácido, que é comprovado com um arco secundário, composto por Vincent (Jonas Bloquet), seu filho que mantém uma conturbada relação com Josie (Alice Isaac). O livro escrito por Philippe Djian é cheio de personagens, cada um com sua peculiaridade própria. Nas duas horas de duração do filme, Verhoeven consegue ser efetivo nas características dos que são aproveitados no filme, explorado desde o orgulho de Michéle até as diferentes reações de seus amigos tão logo eles são notificados do estupro.

Após passar por uma das prévias mais disputadas do ano, Elle foi o indicado da França ao Oscar 2017. A ótima recepção em Cannes e a estratégia de distribuição no solo estadunidense fazem deste um fortíssimo candidato em sua categoria, ao menos para entrar lista prévia de dezembro. Um filme para assistir e pensar na alegoria criada pelo diretor – que dá uma visão pessimista da sociedade e das relações familiares.

NOTA: 7/10

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