A Perfect Day (Um Dia Perfeito, no Brasil) é um filme que abusa de sua narrativa cíclica, buscando prender seu público em uma dramédia em tempos que guerra que não explora a violência, mas sim o trabalho humanitário, tantas vezes esquecido. A primeira produção em língua inglesa do diretor espanhol Fernando Leon de Aranoa tem seu grande pecado na baixa intensidade do roteiro, que não apresenta sequer um momento de tensão bem construído.
1995, Guerra do Balcãs. Coisas estranhas ocorrem diariamente: uma vaca morta no meio da pista é um indicativo de armadilha para minas terrestres, por exemplo. Enquanto o sudeste europeu é dizimado por um dos conflitos mais sangrentos dos últimos anos, Mambrú (Benicio Del Toro) e B (Tim Robbins) têm a missão de tornar a vida de uma comunidade local um pouco mais digna. Certo dia, um corpo aparece dentro da única fonte de água da cidade – um pequeno poço. A tarefa, que teoricamente seria simples, começa a ganhar traços dramáticos a partir do momento em que a equipe não consegue encontrar uma corda para içar o homem que foi atirado ali (este, por sua vez, era muito gordo, o que dificultava ainda mais a tarefa) – ao mesmo tempo que luta contra o relógio para não contaminar a água começa.
O filme é constituído de cenas que basicamente fazem o contraste das belezas naturais da região com os absurdos em tempos de guerra. A história repetitiva é amenizada pela competente fotografia de Alex Catalán. Del Toro e Robbins dominam a tela – decisão que deixa de lado as boas atrizes Olga Kurylenko e Mélanie Thierry. A monotonia jamais é deixada de lado, e vira um empecilho que torna difícil a justificativa de um filme deste tipo com 105 minutos.
O humor é sutil, tratado de forma séria e que toma forma através das diferenças de culturas. Em determinado momento, o único vendedor da região que tinha cordas disponíveis rejeita o dinheiro pelo fato de acreditar que um morto não poderia ser tocado por ninguém. São essas pequenas coisas – ainda que bobas – que dentro de um cenário de devastação podem ter seu ponto racional ou irracional, dependendo de quem faz o julgamento.
A Perfect Day não faz bom uso de seu elenco. Mesmo que uma que outra cena tenha destaque, a falta de um contexto mais amplo sobre a crise da Bósnia não permite dar a magnitude necessária ao trabalho humanitário que era desenvolvido na região. Em resumo, uma boa opção de video on demand – nada mais que isso.
NOTA: 5/10