Quando pensamos na história da viagem à lua, duas são as referências imediatas: Neil Armstrong, o primeiro homem que pisou no solo lunar, e a histórica missão Apollo 11. O indiscutível impacto deste fato – que teve influência direta no contexto da Guerra Fria – aos poucos foi perdendo o brilho, já que cada missão subsequente tinha uma queda considerável de audiência. A lua aos poucos deixou de ser novidade, e o governo estadunidense decidiu cortar o orçamento da NASA. Armostrong é reverenciado até hoje, mas alguém sabe o nome do último astronauta que deixou suas pegadas no satélite da Terra? The Last Man on the Moon responde a essa pergunta ao tratar da vida de Eugene Cernan, comandante da Apollo 17.
Ao contrário do que pode ser sugerido pelo título, a caminhada final na lua não é o único destaque desta produção. O ponto chave para o documentário quebrar barreiras está na forma como ele é conduzido pelo diretor Mark Craig: ao invés de uma conversa olho no olho, descobrimos a carreira de Cernan a partir de excelentes relatos em diferentes cenários dos Estados Unidos. Desde sua experiência inicial na caminhada no espaço da Gemini 9 até a Apollo 10 (preparação para a viagem de Armstrong), temos uma interessante reconstrução do programa espacial americano. Amigos e familiares de Cernan contribuem ainda mais para ótimas reflexões sobre a vida geral de um astronauta – e seus reflexos que passam desde a falta de tempo para a família até a fama.
Craig fez um monumental trabalho dentro dos arquivos da NASA para recuperar imagens de Cernan com o objetivo de levar para seu espectador um produto final que mostre com propriedade a rotina, as alegrias e tristezas da turbulenta corrida espacial. Brilhantemente editado, a presença de espírito do astronauta é impressionante: ele visita locais de memória (como o cemitério de Arlington e o módulo de comando da Apollo 17) e descreve – quase que de forma poética – sua experiência, fato que considera de extrema sorte.
O final das missões americanas na lua é alvo de uma série de análises por parte de Cernan, que vê uma nova geração sendo preparada para caminhar em Marte. O astronauta, que se considera egoísta – traço de personalidade comum entre todos seus colegas por conta da disputa por um lugar nas principais missões da NASA – faz um bom balanço final de sua carreira, com bastante sinceridade. Senti falta apenas de um toque mais provocador, e Craig poderia muito bem alfinetar o veterano para perguntar sua opinião sobre as diversas teorias da conspiração em torno do programa Apollo.
The Last Man on the Moon é um fantástico documentário sobre um dos mais notórios astronautas dos Estados Unidos -e é essencial para todos que desejam se aprofundar no tema. Infelizmente a produção foi vitimada pela sua péssima estratégia de distribuição, que afastou qualquer possibilidade de um justo reconhecimento nos grandes festivais mundiais.
NOTA: 8/10