Um filme de Tim Burton sem Tim Burton? Avaliar Alice Through the Looking Glass (Alice Através do Espelho, no Brasil) requer um posicionamento perante a estrutura geral do filme, uma vez que ele segue os padrões do diretor que comandou a adaptação de 2010. Comandado por James Bobin, o filme apresenta ótimos efeitos e tem uma história bastante sólida.
Alice (Mia Wasikowska) retornou para casa após três anos em alto mar. Ela descobre que seu ex-noivo, Hamish (Leo Bill) tomou posse do navio de seu pai, esteve por trás da venda da casa de sua mãe, e quer que a moça aceite um trabalho secundário em troca de uma pensão mensal. Visivelmente chocada, ela redescobre o Lagarto Azul (Alan Rickman, em seu último papel), que avisa que sua presença é urgentemente necessária. Ela entra no espelho e volta para o mundo mágico. Toda a preocupação envolve o Chapeleiro (Johnny Depp): ele está morrendo, aparentemente por conta de uma grande desilusão. A única solução é Alice voltar para o passado e descobrir o que aconteceu com sua família. O problema é que o Tempo (Sacha Baron Cohen) não está disposto a ceder a Cronosfera — peça necessária para solucionar o mistério.
Obviamente o filme se desvincula da figura de Burton (que permaneceu como produtor) em alguns aspectos. Com muito menos contraste, a fotografia aproveita os ótimos efeitos visuais – e os atores investem muito menos em diálogos mais duros e sérios – já que não existe um antagonista definido desde a primeira cena (e nem mesmo na última).
O roteiro é bem orquestrado, apesar da sequência não se sustentar por si só. O grande interesse do público é justamente descobrir mais questões sobre o destino e as novas aventuras de Alice, fato que tornou o financiamento da produção fácil (apesar da resposta da bilheteria não ser tão impactante quanto era esperado).
Existe uma grande discussão que pode ser feita a partir da subjetividade imposta na questão do tempo – como ele é modificado, e suas variações, algo típico de Hollywood. A mensagem final, de aproveitar a cada segundo da vida, é interessante tendo em vista o espectador alvo. Os personagens atuam de forma competente, e por nenhum momento a continuidade é impactada pela decisão de explorar menos as bases da história clássica e, consequentemente, investir mais em um roteiro original do cinema, com amplo espaço para novos caminhos.
Alice Through the Looking Glass é uma boa opção para fãs do conto de Carroll, mas está longe de ser memorável.
NOTA: 7/10