O humor negro britânico, quando bem empregado, torna roteiros problemáticos em filmes divertidos, onde erros ficam em segundo plano. Não é o caso de Kill Your Friends, adaptação da novela homônima de John Niven. Em uma tentativa mal feita de trazer para o cinema uma versão de American Psycho dentro da indústria musical, o diretor Owen Harris molda todo seu filme em torno de um protagonista ambicioso, mas que consegue, ao mesmo tempo, ser completamente vazio perante os olhos de seu espectador.
Década de 1990: o mercado musical chega em sua era de ouro. As vendas crescem cada vez mais, e existe uma clara necessidade de formar novos ídolos no projeto cíclico que pede pela produção de discos, shows e alta margem de lucro. Steven Stelfox (Nicholas Hoult) é um dos produtores que luta para assinar com novos talentos da música. Viciado em cocaína e com sérios problemas comportamentais, ele está disposto a tudo para ser o agente mais prestigiado de seu país. Por isso, matar seus amigos (que, na verdade, são rivais) é algo que se torna necessário.
O toque do filme é orquestrado de forma negativa. Stelfox não passa a mínima credibilidade – e seu instinto assassino não tem uma boa explicação. Partindo do princípio de que ele é um serial killer, em algum momento a sátira – que foi o que tornou o livro num sucesso – deveria despontar, mas isso jamais acontece. O longa toma corpo a partir de um assassinato que ocorre na meia hora inicial, e a partir daí uma investigação coordenada pela polícia passa a dividir as atenções do protagonista, que toma uma série de decisões bizarras (que são explicadas no livro mas cortadas de forma absurda no filme, que condena qualquer tentativa de raciocínio lógico). Hoult sente a pressão em suas costas e entrega uma atuação robótica, com uma cara de psicopata e uma cara de bom moço que nos acompanha durante toda a exibição. Essa dupla personalidade, que poderia ser bem aproveitada, é descartada com diálogos simples e uma narração duvidosa.
O design de produção é ruim, e fica bastante complicado de vender ao espectador a ideia de que o filme se passa na década de 1990 com aquele padrão de vestimentas criados para se assemelhar a uma roupa que alguém usaria vinte anos atrás. E este não é nem de perto o maior dos problemas, mas torna-se sério na medida em que todas as imagens ao redor de Stelfox apresentam essa falta de capricho.
Lançado no último Festival de Toronto, Kill Your Friends passa por sérios problemas de distribuição internacional. O filme é fraco, sem apelo algum e as pouquíssimas passagens agradáveis ocorrem por conta de uma boa seleção musical de fundo. A reação negativa dos próprios britânicos deve levar o longa para plataformas como Netflix em um futuro próximo.
NOTA: 3/10