Um filme sobre Hollywood feito para o humor ácido inigualável dos irmãos Coen. Hail, Caesar! (Ave, César! no Brasil) homenageia de forma impactante clássicos estadunidenses e faz boas piadas com as desgraças da era do cinema de estúdio.
No começo da década de 1950, Josh Brolin interpreta Eddie Mannix, um homem que trata de controlar situações caóticas (o bom e velho fixer) que ocorrem na Capitol Pictures, grande estúdio de Hollywood. A produção “Hail, Caesar! A Tale of the Christ” chama a atenção pela incrível quantidade de recursos despejados, e torna-se nos ovos de ouro da Capitol, que quer o final do longa o quanto antes. Mas tudo toma um rumo estranho quando o super astro Baird Whitlock (George Clooney), é sequestrado por um misterioso grupo. Do outro lado do estúdio, a desejada DeeAnna Moran (Scarlett Johansson) causa pânico em Eddie por conta de um problema que pode comprometer seu novo filme. A história também segue Hobie Doyle (Alden Ehrenreich), um ator de filmes de western que acaba de ser transferido para o drama dirigido pelo peculiar Laurence Laurentz (Ralph Fiennes), e Burt Gurney (Channing Tatum) que firma-se como outra grande estrela do estúdio.
O filme diferencia-se por completo de Barton Fink – outro longa dos irmãos também com Hollywood de pano de fundo. Em Hail, Caesar! temos uma abordagem de foco de narrativa diferente. Em 1991, os irmãos eram novos em Hollywood e a indústria não engoliu totalmente a sátira apresentada, já que eles, em tese, seriam outsiders dispostos a criticar o dito padrão estadunidense. Em 2016, Joel e Ethan são players da indústria, e propõem muito mais complexidade ao analisar o começo da decadência do cinema de estúdio em uma chacota que pode ser contextualizada perfeitamente tanto no passado como também no presente, sendo que neste último caso, os próprios irmãos podem ser alvo – já que eles são integrantes da grande alegoria que é o cinema hollywoodiano.
Hail, Caesar! tem um elenco com tantas estrelas que, obviamente, algumas ficam de lado com papéis menores. Scarlett Johansson, por exemplo, pode frustrar ao aparecer em apenas três tomadas, com frases prontas e sem qualquer espaço para articular seu próprio personagem. Jonah Hill parece fazer um pequeno cameo – ou a tesoura na sala de edição não foi favorável a ele – também com um pequeno punhado de linhas (aliás, considerei o perfil de seu personagem extremamente interessante, que cadenciaria muito melhor o filme). Ao contrário das suas outras colaborações com os irmãos, Clooney desta vez aparece como um alicerce para Brolin, que certamente toma todas as atenções por conta da deliciosa forma como conduz seu papel e é o destaque absoluto desta produção.
O toque do roteiro é incrivelmente satisfatório. Ao abordar a construção de um filme épico (homenagem à The Robe, de 1953) o estilo de discurso adota o próprio padrão dos anos 1950, com um narrador conduzindo o filme e com um final típico do cinema de estúdio. O ponto negativo, no entanto, ocorre na falta de equilíbrio do momentum gerado na metade final, quando a amarração entre as histórias parte premissas soltas, com um contexto político carregado e pouco explorado.
Hail, Caesar! é uma boa adição à filmografia dos Coen, que propõem pequenos desafios aos cinéfilos (como apresentado nas referências à North by Northwest, Ben-Hur e The Killing). Imperdível.
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NOTA: 7/10
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