A Islândia conseguiu se recuperar da crise econômica que desestruturou o país em 2008 de forma rápida. O investimento no cinema é nítido, e nos últimos três anos vários longas do país foram premiados na Europa. Apesar disso, os dramas desenvolvidos no mercado nórdico tem pouco potencial de distribuição, muito pela abordagem do roteiro, que não investe em grandes surpresas ou mesmo em um clímax. Fúsi (Desajustados, no Brasil) não foge à regra.
Fúsi (Gunnar Jónsson) é um homem de cerca de quarenta anos que vive com sua mãe. Sua rotina é alternada entre seu trabalho como despachante de malas no aeroporto e brincadeiras com eletrônicos e com uma vasta mesa em que simula batalhas da Segunda Guerra Mundial. Solitário, o homem sofre bullying de seus colegas diariamente, além da forte pressão pelo fato de ser virgem. Ele conhece Sjöfn (Ilmur Kristjánsdóttir) na saída de uma aula de dança – que ele não frequentou pela vergonha de seu corpo – e desenvolve uma atração única pela mulher, envolta em seus próprios problemas, como uma depressão profunda.
A trama é moldada a partir de um romance com um toque dramático. Ao contrário de Hollywood, o cinema nórdico não está interessado em promover a história para um final feliz. A investida é na desconstrução da personalidade de seus protagonistas, oferecendo um final plausível, mais próximo do dia a dia longe das telas do cinema. Neste sentido, a figura de Jónsson é muito bem utilizada. Tanto na fotografia, que busca seu sofrimento através de uma expressão de dor, quanto na atuação impecável. Ele está muito longe de ser o símbolo de um filme de romance (por conta de seu porte físico) e isto tem um fator de peso que ajuda o espectador a se vincular ainda mais com a proposta apresentada pelo diretor Dagur Kári, também responsável pelo roteiro.
Existe o convite formal de fazer o público se colocar na pele de Fúsi, que vivencia acusações injustas pela sua mentalidade um tanto quanto infantil. Ao mesmo tempo, seu relacionamento com Sjöfn é incerto, sem rumo. Para apostar no amor – ou apenas na atração que ele sente pela mulher – Fúsi aprende a cozinhar e cobre seu turno de trabalho enquanto a mesma chora em casa por conta de sua vida difícil.
A conclusão do filme é satisfatória. Fúsi tem problemas de estruturação que rondam toda a exibição, como a falta de um foco bem definido na primeira metade do longa, mas isso não impede a boa experiência final.
NOTA: 6/10