Zootopia é uma das grandes apostas da Disney para 2016. Em um período onde a animação tem graves problemas para se reinventar – no sentido em que a mesma fórmula é usada e reusada várias vezes pelos mesmos estúdios – é gratificante assistir a uma produção que apresenta um conteúdo que pode ser replicado com sucesso em nossa sociedade. Além de apresentar uma bonita história, o tema principal – estereótipos – pode nos ajudar a entender vários problemas que ocorrem no mundo de hoje, abrindo espaço para discussão até mesmo na área política.
No mundo dos animais, Judy Hopps é uma coelha que sonha ser policial. Mesmo sabendo de sua fragilidade física, ela busca deixar a plantação de cenouras da família de lado para ir para Zootopia, a grande metrópole, que tem clima agradável para a convivência de ratos e ursos polares, graças sua estratégica divisão e situação geográfica. Anos mais tarde, ela se forma como a primeira oficial de sua turma, e é transferida para a delegacia em um projeto de integração da vice-prefeita, a ovelha Bellwether. Aos poucos, um clima caótico começa a tomar conta quando os animais parecem despertar seus instintos selvagens. Judy entra na investigação com a ajuda do malandro Nick, raposa de grande inteligência.
A animação é um instrumento incrível para analisar, por exemplo, os problemas que estão sendo discutidos nas primárias republicanas nos Estados Unidos. No ambiente perfeito e cheio de harmonia de Zootopia, a sociedade sofre quando políticos passam a pregar a superioridade de um determinado grupo. No caso, as ‘presas’ consideram que viver em um mundo cheio de ‘predadores’ é uma ameaça para sua existência. Este fato é jogado como um discurso de alto teor político para uma sociedade que compra esta ideia. Ora, eles não poderiam previr de melhor e mais eficaz maneira a ascensão de Donald Trump nos EUA. O bilionário dá exemplo do quanto pretende montar seu governo em torno de um projeto neofascista que pretende isolar a sociedade dos EUA (a nação construíuda por imigrantes, diga-se de passagem) do resto do mundo ao não ter a mínima vergonha de propor a exclusão de mexicanos e muçulmanos, por exemplo. Apesar das diferenças físicas, a Disney apresenta a ideia de que todos os animais tem a mesma pureza. Alguns, como Nick, moldam sua personalidade em torno de experiências negativas (ou positivas) vivenciadas em sua juventude.
Mais uma vez o capricho da produção pode ser notado nas incríveis texturas e nos ótimos personagens, que devem gerar milhões de dólares para a DIsney em licenciamentos. Até mesmo nos detalhes nota-se o quanto houve um refinamento no filme: cada região do mundo recebeu um personagem diferente como âncora do telejornal, com dublagem de um grande nome da imprensa (no Brasil, o escolhido foi Ricardo Boechat). Algo mínimo, mas que ressalta o tão comentado ‘selo de qualidade’ padrão Disney, que apresenta também uma engraçada homenagem ao clássico The Godfather, com um ratinho atuando como Vito Corleone
A diferença da realidade para a ficção é que o final feliz ao melhor estilo Disney nos mostra a volta da harmonia, com o amor transbordando mais uma vez na cidade. Na vida real, o caso é mais complicado – e a popularidade de Trump sobe cada vez mais. A excelente experiência de Zootopia é única, seja para apenas para aproveitar a ótima história ou para expandir o objeto do roteiro e gerar uma longa discussão em torno do que é tratado. Não é à toa que a animação conseguiu impressionantes números de bilheteria ao redor do mundo.
NOTA: 7/10
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