A Man for All Seasons (O Homem Que Não Vendeu Sua Alma, no Brasil) é muito mais eficaz do que qualquer aula de história. A peça de Robert Bolt levada para o cinema por Fred Zinnemann venceu o Oscar de melhor filme de 1966 e ficou marcado como um dos maiores filmes de religião de todos os tempos, deixando um legado que é visível até hoje.
Com roteiro adaptado pelo próprio Bolt, a história trata de Sir Thomas More (Paul Scofield), que é nomeado Chanceler da Inglaterra justamente no período em que Henrique VIII (Robert Shaw) busca se separar de Catarina para se casar com Ana Bolena, tendo em vista a sucessão de seu trono. No entanto, More mantém-se convicto de que tal ato violaria as leis de Deus, e decide não aderir ao juramento que garantia seu rei como líder da Igreja, permanecendo ao lado do Vaticano.
Para a compreensão total do filme, pode ser necessário um conhecimento prévio do contexto, já que não existe a preocupação de dar base histórica ao objeto central – apesar de ser eficaz a partir do momento em que busca explicar a história a partir do rompimento de More com o Rei. Tanto a maquiagem quanto o design de produção estão impecáveis, um passo a frente de tudo o que já foi feito na década de 1960. Por ser um filme de época, é compreensível que se opte por um diálogo mais próximo da realidade do espectador. No entanto, a parceria de Zinnemann e Bolt foi extremamente positiva neste sentido, deixando Sir Thomas More com falas elegantes e refinadas, na medida do possível. Em um filme deste calibre, um dos principais alvos de análise se dá na relação de poder entre as instituições, algo que pode ser discutido a partir desta produção.
A bela fotografia de Ted Moore ressalta a qualidade ímpar dos cenários, com tomadas que sabem dar a dimensão exata do caos gerado por More. A integração do elenco de apoio, neste sentido, é digna de ser destacada. Desde a primeira cena com Orson Welles (que interpreta o Cardeal Wosley) ou com as rápidas e marcantes passagens de Robert Shaw, o brilho da atuação de Paul Scofield fica ainda mais visível.
A Man for All Seasons venceu seis prêmios da Academia, em um ano onde dividiu o centro das atenções com Who’s Afraid of Virginia Woolf? Um marco do cinema da década de 1960, é também a porta de entrada para o cenário de intrigas da Idade Média, em um período extremamente complexo, seja pela Reforma Protestante ou mesmo pelas Reformas Católicas.
NOTA: 8/10