Em busca de acompanhar o imenso sucesso dos programas de culinária na televisão, Burnt (Pegando Fogo, no Brasil) é um filme que envolve um contexto extremamente interessante e, ainda assim, consegue cometer graves problemas erros de execução que comprometem a experiência final ao ponto de deixar a produção com cara de uma comédia dramática ambientada em algum episódio de Hell’s Kitchen.
Adam Jones (Cooper) é um chef que se muda para Londres em busca da terceira estrela da Michelin, retornando ao comando da cozinha de seu antigo amigo, Tony (Brühl). Após fazer sucesso em Paris e se meter em graves problemas por conta de seu vício em drogas e de seu comportamento destrutivo, sua carreira ficou de lado. Para tornar possível seu sonho, ele retoma contado com Michel (Omar Sy), ex-colega de Paris que foi vítima do temperamento de Adam e recruta Helene (mais uma boa interação de Bradley com Sienna Miller, repetindo American Sniper). Para tentar sobreviver na capital do Reino Unido, Adam deve lidar com problemas do passado junto da dura missão de resgatar sua credibilidade.
A atuação de Cooper é sólida. O problema não é seu estilo (que mistura confiança com arrogância) – mas sim o que envolve seu personagem. Todas as histórias secundárias simplesmente não tem campo para desenvolvimento. O passado de Adam nas drogas é mencionado, e, minutos mais tarde, ele recebe uma surra dos homens que cobravam dinheiro atrasado; Qual o contexto por trás disso? Seria necessário explorar algo tão pesado – com uma influência significativa, com tanta coisa para abordar? Fora isso, a atração de Tony por Adam, os altos e baixos do chef com Michel, as presenças mal utilizadas de Uma Thurman e Emma Thompson e sua relação com Helene (fruto de uma típica obra de Hollywood, afinal, tudo filme deste tipo tem que ter um romance) dão a impressão de que o roteirista Steven Knight tentou abocanhar muita coisa em pouco tempo. Isto é um ponto que se torna surpreendente na medida em que Knight conseguiu fazer de Locke um filme eficaz contado todo dentro de um carro. Sem sombra de dúvidas, menos papos secundários e mais foco na cozinha seria bem mais interessante.
O lançamento em Blu Ray tenta trazer uma outra imagem do filme, tentando guiar o espectador em cenas controversas. As opções de faixa de comentários alterativa mostra toda a pesquisa por trás dos pratos, e dá insights sobre a produção que estão cada vez mais raros de se encontrar. As entrevistas do elenco mostram o quanto a The Weinstein Company investiu por trás do marketing e realmente tinha a convicção de que ao menos Bradley receberia uma indicação ao Oscar.
É engraçado observar que os atores venderam o longa como retrato sobre a arte de cozinhar. Burnt não chega nem perto disso, mas é fato que, se este fosse realmente o foco, teria tudo para ser um filme relevante em seu gênero. Nem mesmo a consultoria de Gordon Ramsay e todo o charme do Guia Michelin conseguem sustentar os fracassos do longa.
NOTA: 5/10