Tratar de religião no cinema é uma tarefa um tanto quanto desafiadora. E quando a sétima arte volta-se para uma instituição como a Igreja Católica, feridas são expostas e vaidades são tocadas. Spotlight, um dos grandes filmes de 2015, é uma excelente amostra: discussões de alto nível foram levantadas a partir da história do grupo de jornalistas que denunciou os abusos ocultados em Boston. El Club, de Pablo Larraín, também é impactante e expõe a fraca resposta do Vaticano aos padres pedófilos.
Sob os cuidados da irmã Monica (Antonia Zegers), os padres Vidal (Alfredo Castro), Ramirez (Alejandro Sieveking), Silva (Jaime Vadell) e Ortega (Alejandro Goic) vivem juntos em uma casa isolada no interior do Chile. Todos foram afastados por problemas de comportamento e acatam a proteção da Igreja, que financia todos seus gastos. Dentre as atividades diárias, apostas em corridas de cachorros tomam mais tempo do que as orações e a reflexão interna que eles deveriam buscar no retiro.
O padre Lazcano (Jose Soza) altera a rotina ao se juntar ao chegar na casa e se juntar aos seus colegas. O problema é que Sandokan (Roberto Farias), vítima de abuso sexual enquanto criança dentro da Igreja, começa a gritar pela vizinhança todos os detalhes sobre sua iniciação sexual com Lazcano, que decide se matar. É então que outro Padre, Garcia (Marcel Alonso), é enviado como representante da Igreja do Chile para investigar o local e estabelecer normas mínimas de convivência.
O roteiro apresenta um tom misterioso. O caso do suicídio de Lazcano é alterado pela Irmã Monica e pelos padres tão logo Garcia começa a levantar suspeitas sobre o ocorrido. Se a execução da história não foi bem orquestrada, uma vez que existem pequenos furos e questões um tanto quanto incompreensíveis, a forma como Garcia se coloca como um remissor dos pecados dos demais padres chama a atenção, buscando promover uma mensagem que diferencia-se de Spotlight, por exemplo, por lidar apenas com a versão interna da Igreja.
Garcia não é nenhum santo. Apesar de ser o personagem com que o espectador mais se identifique dentre todos os padres apresentados, ele é o tipo de burocrata que é bem intencionado, mas que deixa de lado o racional para investir no seu amor pela Igreja. Por este motivo, em uma determinada situação que os padres tranquilamente enfrentariam duras acusações e até mesmo a cadeia, ele decide ocultar o caso e seguir adiante.
O linguajar pesado e a obsessão de Sandokan em tratar de sua vida íntima não conseguem dar fruto a um mínimo de especulação sobre sua personalidade. Imagens dele e de uma mulher (que exploram o sexo anal e as marcas em sua vida) deixam seu personagem vazio, como se fosse um secundário sem importância. O que interessa para os padres é a sua ameaça no presente, enquanto ele volta seus olhos para o passado. Por isto, uma abordagem diferente seria bem mais efetiva.
Após fazer sucesso com No, Pablo Larraín volta em grande estilo, com uma fotografia cinzenta que deixa clara suas pretensões com essa produção.Indicado ao Globo de Ouro, apesar do esnobe no Oscar 2016, El Club explora o medo e as angústias (tanto das vítimas quanto da Igreja). Bom fruto do incentivo do governo chileno ao cinema local.
NOTA: 7/10