É notório que as animações produzidas no Japão estão muito na frente das americanas na questão de montagem de roteiro. É louvável, por exemplo, notar um esforço como o de Inside Out, que consegue combinar gráficos impecáveis com uma história de alto nível. No entanto, o padrão do mercado ocidental está nivelado cada vez mais ao nível de The Good Dinosaur, com péssima articulação e pouco conteúdo.
Omoide no Mânî (When Marnie Was There, na distribuição internacional e As Memórias de Marnie, no Brasil) é um dos mais claros exemplos da maturidade do Studio Ghibli. Tenho a convicção de que a história apresentada poderia ser facilmente adaptada para um drama com atores reais. Baseado no livro homônimo de Joan G. Robinson e com direção de Hiromasa Yonebayashi, entramos na vida de Anna, uma colegial solitária que sofre de ataques de asma por conta da poluição da metrópole em que vive. Sua mãe adotiva decide levar a jovem para passar um tempo com sua tia, com a argumentação de que o ar puro do campo pode ajudar sua saúde. E é na pequena cidade – com paisagens maravilhosas – que Anna conhece a misteriosa Marnie, que diz viver em um local que parece estar sem ninguém. A primeira parte do filme trata sobre a bonita relação de amizade desenvolvida entre Anna e Marnie. Logo após. a história é dividida em pequenas surpresas, que levam a um desfecho previsível, mas ainda assim com potencial para emocionar, já que existe uma perfeita harmonia das imagens com a trilha sonora.
A direção de arte – impecável, como de costume – mostra ao público cenários exuberantes, cheios de detalhes e com a leveza que só o Ghibli consegue passar. Mas este não é nem de perto o foco da produção. Ressalto a boa quantidade de variáveis no roteiro, que coloca personagens coadjuvantes em uma interessante perspectiva, já que eles funcionam tanto para apoio quanto para complementar o mistério que envolve a metade final. É a partir destes eixos sólidos que o resultado final torna-se bastante agradável.
Indicado ao Oscar de sua categoria, infelizmente essa é a última produção do Studio Ghibli, que anunciou uma pausa nas suas atividades após a aposentadoria de Hayao Miyazaki. Para os fãs de uma animação de qualidade – e, no geral, para os amantes de cinema – resta esperar que os japoneses consigam superar essa lacuna gigantesca que ficará aberta na ala criativa e que voltem o mais rápido possível.
NOTA: 8/10