A boca paga.
Recentemente, ao escrever sobre Inside Out, fiz uma série de elogios à postura da Pixar em se tratando de animações. Minhas expectativas para cada filme produzido pelo estúdio de John Lasseter são enormes (e não poderia ser diferente). É por este motivo que fiquei extremamente decepcionado com o nível de The Good Dinosaur (O Bom Dinossauro, no Brasil).
Por mais inocente que pareça ser, o longa dirigido por Peter Sohn (com vasta experiência na direção de arte da casa) apresenta ao público uma aventura obscura com decisões muito questionáveis: personagens inconscientes, machucados, mordidas e animais se devorando – opção totalmente desnecessária, por sinal. O filme com a premissa de que o asteroide que causou a extinção dos dinossauros, milhões de anos atrás, não atingiu a terra. Eles, portanto, continuam habitando o planeta, e vivem a partir da agricultura e do planejamento para ter comida para o ano todo. Os dinos também têm um conceito apurado de propriedade privada e de família. É neste contexto que somos apresentados ao frágil Apatossauro Arlo, que acaba se separando de sua família em uma tempestade. Ao buscar o caminho para casa, ele encontra um pequeno garoto neandertal, Spot, que parece ser inspirado em Victor de Aveyron, a criança selvagem que foi assunto na França do século XIX. A história é dividida em três partes: inicialmente, uma breve introdução do ambiente em que Arlo vive, com seus pais e seus irmãos. O desenvolvimento, que deixa uma série de lacunas, mostra a epopeia de Arlo para retornar para casa. Na conclusão, Spot, que pensava não ter mais família, acaba reencontrando seus pais.
A parte curiosa e que chama a atenção é o fato dos dinossauros parecerem ser mais organizados que os humanos. Aliás, eles falam durante o filme, enquanto os humanos restringem-se aos gemidos. O fato negativo está na parte em que a Pixar mais se destacou, que é a construção gráfica. Por incrível que pareça, os cenários não tem vida. Quando os personagens não interagem diretamente com o ambiente, as nuvens ficam imóveis e a grama, por exemplo, parece mais com rabiscos refinados graças a computação gráfica. O vocabulário é inadequado (existem ameaças, inclusive de morte – que não combinam nem um pouco com a proposta original) e não se tem a certeza do público alvo.
Em determinada cena, é impossível não fazer a comparação direta com Rei Leão, o que só confirma o quanto esta produção é fraca. No fim do dia, The Good Dinosaur era uma produção que jamais deveria ter saído do papel. Ocorreram trocas de pessoas chave na produção (inclusive o diretor), o roteiro foi profundamente alterado e o lançamento foi atrasado por quase dois anos. O lançamento desta animação me fez pensar que a Pixar apostou justamente no seu renome para jogar uma obra incompleta nas telas. Lamentável.
NOTA: 4/10
2 thoughts on “The Good Dinosaur (O Bom Dinossauro) – 2015”