O novo filme de Ron Howard é visualmente impecável. No entanto, isto não é o suficiente para garantir a qualidade da produção, duramente abalada por um roteiro lento e mal definido. In the Heart of the Sea (No Coração do Mar, no Brasil) foi uma das grandes apostas do ano da Warner, que pegou o projeto por conta da parceria de sucesso entre Howard e Chris Hemsworth no fantástico Rush.
Moby Dick é um clássico da literatura que, curiosamente, nunca foi bem visto por Hollywood. Fora a clássica produção de 1956, dirigida por John Houston, a obra de Herman Melville foi alvo de poucas adaptações (geralmente restritas a filmes B ou programas de TV de baixo orçamento). Howard merece crédito por investir em um projeto que tem como base o excelente livro homônimo escrito por Nathaniel Philbrick, que quase foi adaptado pela Miramax logo após o lançamento deste, em 2000.
É justamente na incrível fonte de conteúdo que Philbrick oferece que mostra a dura realidade das adaptações modernas. Infelizmente, para garantir o retorno de bilheteria, filmes deste tipo deixam de lado boa parte da história real para dar lugar a conversas idealizadas, criadas para abastecer escritas fracas, carentes de continuidade. Para contar a história do naufrágio do Essex, que inspirou Melville a escrever Moby Dick, Howard novamente aposta em uma história voltada na rivalidade entre duas figuras de personalidades marcantes.
Owen Chase (Hemsworth) foi um talentoso caçador de baleias de seu tempo. A ele foi prometido o comando de uma embarcação caso ele tivesse sucesso em sua missão de conseguir extrair uma grande quantidade de óleo de baleias. O problema é que ela seria comandada pelo jovem e inexperiente George Pollard (Ben Walker), filho de um membro da elite da navegação que buscava reconhecimento. As diferenças ficam de lado quanto a embarcação é atacada por uma baleia cachalote, no meio do Oceano Pacífico, e todos os marinheiros lutam pela sobrevivência.
Dentre os graves erros históricos, a forma com que Thomas Nickerson foi retratado me incomodou bastante. Fora isso, a proposta de Howard é justamente tirar a questão lendária em torno de Moby Dick para buscar focar – teoricamente – no drama da vida real. Mas tal argumento não se sustenta a partir do momento em que justamente a baleia apresentada nesta produção ganha traços místicos.
Os ótimos efeitos gráficos e os breves momentos de tensão não mudam o fato de que In the Heart of the Sea é um filme com altas pretensões mas com uma construção completamente errônea. Os atores interpretam meros personagens em uma tragédia anunciada, e não existe sequer uma tentativa de montar com precisão os perfis de Chase e Pollard – tão complexos e tão importantes. Muito pelo contrário, a rica história narrada por Philbrick é resumida em longos atos de sofrimento e angústia, pouco importando a base real do que realmente aconteceu em 1820.
NOTA: 6/10
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