Tangerine é uma das grandes surpresas de 2015. De vez em quando, um diretor com ideias grandiosas (e que acredita em seu potencial) supera todos os entraves para colocar sua película nas telas – seja do cinema, seja da televisão. O caso de Sean Baker é ainda mais especial: com o limite de 100 mil dólares de orçamento total (incluindo empréstimos de amigos próximos), ele não teve dúvidas ao comprar uma lente especial para seu iPhone 5s e soube tirar proveito deste fator para criar um longa que cria desde a primeira cena uma relação muito próxima do espectador com as protagonistas apresentadas.
Baker é um diretor conhecido por apontar as lentes para pessoas que a sociedade geralmente torce o nariz. Foi assim com Starlet (que trata sobre uma atriz pornô) e com Take Out (sobre imigrantes). Ao caminhar por ruas onde Hollywood dificilmente coloca o pé, ele tem campo livre para desenvolver seu roteiro sem nenhum tipo de pressão.
A travesti Sin-Dee Rella (Kitana Kiki Rodriguez) acaba de cumprir a pena de 28 dias de prisão. No dia de natal, ela se encontra com sua melhor amiga, a também travesti Alexandra (Mya Taylor), que menciona inocentemente que o namorado e cafetão de Sin-Dee, Chester, está dividindo a cama com “uma mulher que tem uma vagina”. Cheia de raiva e decidida a fazer justiça, Sin-Dee percorre Los Angeles para encontrar a mulher – Dinah (Mickey O’Hagan) – além de procurar Chester para entender o motivo da traição.
Existe uma ponta hilária em Tangerine, carregado de humor negro. Apesar de explorar as dificuldades da vida das travestis de Los Angeles, Baker consegue ser preciso e afiado. As duas personagens principais intercalam as atenções com o taxista armênio Razmik (Karren Karagulian, produtor do filme), que vive de suas corridas – mas que também nutre um fascínio especial por garotas como Alexandra. Tanto é que na noite de natal ele abandona sua família e sai a procura de diversão, criando uma memorável cena onde todos os personagens acabam se encontrando e criando uma confusão generalizada que envolve travestis, o armênio, o cafetão e até mesmo a proprietária de uma pequena loja de Donuts.
Baker e seu diretor de fotografia, Radium Cheung, constroem suas tomadas com um filtro amarelado de alto contraste, perfeito para sequências em terceira pessoa. Além de valorizar as ruas de Los Angeles, o toque do roteiro é extremamente agradável – a cada minuto podemos ser surpreendidos com uma surpresa nas esquinas sujas da cidade. Tangerine tem tudo para se tornar um clássico cult. Mais que isso, serve de lição para os jovens: uma história boa, bons personagens e uma dedicada equipe técnica superam todos os problemas. Basta ter organização e empenho. Originalidade é a palavra que define com perfeição Tangerine.
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NOTA: 9/10
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