Stanley Milgram é um dos nomes mais famosos da história da psicologia social. Até hoje seus estudos são referenciados e tornaram-se modelo para novas pesquisas. Dirigido por Michael Almereyda, Experimenter, em primeiro momento, é um filme que trata sobre a ‘Experiência de Milgram’, um dos mais notórios experimentos do século XX, para então discursar sobre a vida do americano, sua carreira e seu legado.
Interessado em estudar a submissão do homem perante ordens de uma determinada autoridade, Milgram, em 1961 desenvolveu um experimento que ajudaria a entender a ‘banalidade do mal’. Três meses após o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém, a pergunta era: por qual motivo os nazistas se esconderam atrás do discurso de cumprir ordens? Por qual motivo não apelaram para o seu bom senso?
Para solucionar esta questão, Milgram propôs colocar em uma sala duas pessoas. Uma delas seria a analisada, e outra seria um cúmplice da pesquisa (obviamente, a pessoa analisada não sabia disso). A pessoa de fora ocupava o cargo de ‘professor’ e teria que repassar uma sequência de memorização para seu aluno. Caso o aluno errasse, o professor deveria aplicar uma sequência crescente de choques, até atingir os 450 volts. O incrível resultado é analisado durante a primeira metade do filme. A seguir, passamos para outras criações de Milgram, contadas de forma resumida até a morte do psicólogo, em 1984.
Almereyda teve coragem o suficiente para tentar diferenciar seu filme. Sabendo que a produção tinha poucos recursos, ele não teve vergonha nenhuma de simplificar cenários ou quebrar a quarta parede com bastante frequência. O resultado final é interessante, já que esta narrativa é construída desta forma desde os primeiros minutos de exibição. O contato direto de Sarsgaard com o público é bem formulado e consegue suprir algumas das várias carências técnicas, também pelo fato de que ele carrega a produção nas costas. Os pequenos ‘extras’ – que passam da sátira de Lincoln até o uso constante de Kierkegaard – articulam muito bem com a proposta do personagem principal, ás vezes seguido por um elefante (!).
A cinebiografia de Milgram explora apenas os tópicos mais relevantes de sua vida, não apela para histórias secundárias e tem um excelente toque de roteiro. A falta de capricho na edição e a fraca trilha sonora não comprometem o longa, que certamente será utilizado na rede acadêmica da área de psicologia pela boa introdução os estudos do americano. Os pequenos testes feitos por Milgram e apresentados na tela prendem a atenção do espectador, que passa a fazer desafios mentais a si mesmo, deixando clara a relevância do tema e a toda a costura feita em torno da personalidade do objeto de análise deste longa.
NOTA: 7/10