Justiça seja feita: Love & Mercy é uma das raras exceções no que diz respeito ao trabalho de construção do roteiro em cima da biografia de uma pessoa viva. Ao mesclar dois momentos da vida de Brian Wilson, o estreante diretor Bill Pohlad aproveita-se de uma série de uma longa gama de recursos visuais para moldar sua história de forma bastante agradável, com destaque para uma trilha sonora de primeiro nível.
Inicialmente, acompanhamos Paul Dano dar vida ao jovem Wilson, que deixa de lado as apresentações com os Beach Boys em 1964, após sofrer um colapso nervoso em um avião. É então que ele decide focar seu esforços gravando músicas no estúdio, onde Wilson acredita que seu talento seria melhor expressado. Duas décadas mais tarde, já consolidado como uma estrela da música mundial, Wilson é interpretado por John Cusack, e se torna vítima das loucuras de seu psiquiatra Eugene Landy (Paul Giamatti), algo que começa a mudar quando ele conhece Melinda Ledbetter (Elizabeth Banks), uma modelo que se tornou vendedora de Cadillac e aos poucos conquista o músico por sua simplicidade e generosidade.
O filme bem que poderia surfar no sucesso da banda – e faz isso quando necessário – mas ele consegue se sustentar pela sua própria excelência. Claramente houve uma pesquisa profunda para caracterizar cada momento da vida de Wilson, desde o uso das drogas ilícitas até seus graves problemas com medicamentos controlados e paranoias. A progressão natural do personagem não ocorre pelo fato do roteiro apostar em cortes e interrupções, onde o jovem Wilson dialoga com o Wilson adulto, que vive em um mundo bem longe da realidade. A sustentação da história está em cima da personagem de Elizabeth Banks, que cumpre seu trabalho com muita competência, mostrando cada vez mais sua afirmação por conta de seu próprio talento.
Love and Mercy é um filme de contrastes de personalidade. Obviamente, existe uma admiração clara do diretor diante de seu objeto – e isto seria um problema gravíssimo se não fosse a abertura total para analisar a ascensção, queda e resurgimento de Brian Wilson. Bem cotado para as premiações da temporada (especialmente as independentes), Cusack retorna ao alto nível de atuação com uma interpretação digna de um ator de ponta.
NOTA: 7/10
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