La grande bellezza venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro e foi aplaudido pela crítica mundial. Meses depois, Paolo Sorrentino anunciou Youth (na época com o título La giovinezza, que permaneceu apenas no mercado italiano) citando a realização de um sonho. Na estreia do longa, em Cannes, aplausos e vaias. Mantendo seu mesmo estilo provocador e buscando um toque de humor muito refinado, o diretor exagerou um pouco na dose de sua mensagem, tentando criar um ar poético para seu final – o que claramente é o alvo principal das discussões sobre o filme e sobre a moral da história apresentada.
Fred Ballinger (Michael Caine) é um famoso compositor que passa por um período de descanso em um luxuoso spa nos alpes suíços, junto de seu amigo Mick (Harvey Keitel), diretor de cinema que busca completar seu ‘filme testamento’, sua filha Lena (Rachel Weisz) e Jimmy Tree (Paul Dano), um ator de Hollywood famoso por seus filmes com robôs e que visa um novo rumo em sua carreira (olá, Shia Labeouf). Da vida noturna italiana para o requintado ambiente das montanhas de gelo, Sorrentino continua infiltrando suas histórias com personagens secundários muito bem orquestrados – que dão um toque especial ao filme, já que o ambiente de Fred e Mick nunca se restringe apenas a eles. Um ex-jogador argentino obeso com uma tatuagem de Marx nas costas (é você, Maradona), um emissário da Rainha da Inglaterra em busca de convencer Fred a conduzir para a família real, um pensativo Adolf Hitler, a nem tão boba Miss Universo colocam entram em cena para quebrar as passagens mais dramáticas.
Retomando a parceria com Luca Bigazzi, a deslumbrante fotografia captura momentos especiais, com destaque para a sequência de um sonho em que a Praça de São Marcos é tomada pela água. O tradicional contraste de cores presente nos filmes de Sorrentino abre campo para a interpretação de seus personagens. Fred e Mick tentam desvendar sua juventude através de lembranças de um passado distante. Neste caso. o diálogo impecável da dupla Caine e Keitel dá muita força e credibilidade ao filme. A virada na história acontece quando Glenda (Jane Fonda), musa pessoal de Mick e estrela de onze filmes do diretor, aparece no spa e afirma que não vai participar da tão sonhada produção dele, cujo papel principal foi moldado especialmente para a atriz que o acompanhou por várias décadas. É aí que o espectador deve costurar as lições tomadas na hora anterior para amarrar com o trágico desfecho – que, por consequência, trás consigo o resgate da juventude e da vida para outros. Quem fez isto aplaudiu Sorrentino em Cannes. Aqueles que se negaram e colocaram em dúvida a escrita de Sorrentino, certamente foram os que vaiaram o longa.
Mesmo com as boas atuações e um complexo e bem estruturado campo de personagens, Youth tem seus pecados. O mais grave deles é ao se dar conta que o filme tem relação direta com a música, e a trilha sonora de David Lang é um tanto decepcionante neste caso, focando mais nas palavras do que nos tons, que deveriam ser o principal. Ainda assim, Youth pode aparecer na temporada de premiações com destaque para Caine como melhor ator e Sorrentino na categoria de melhor roteiro.
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NOTA: 7/10
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