El Clan (O Clã) é o filme selecionado pela Argentina para disputar o Oscar 2016. Falei com amigos e colegas que a responsabilidade de suceder o extraordinário Relatos Selvagens certamente não seria uma missão fácil – muito pelo contrário. Assim como Damián Szifrón, o diretor Pablo Trapero tem uma filmografia extensa – mas o prestígio e interesse do público latino (aliado ao apoio da Academia argentina) tornará este filme como responsável pela virada de sua carreira – mais do que merecido, por sinal.
Argentina, década de 1980: durante o período de transição da ditadura militar para a democracia, uma série de medos tomam conta da população do país. A tensão econômica, por exemplo, atinge em cheio a classe média, com medo de perder seu poder de compra. Arquimedes Puccio (Francella) – homem com prestígio dentro do governo – lidera a família que dá título ao filme – todos perfeitamente ‘normais’. Sua mulher, Epifania (Lili Popovich), trabalha como professora em Buenos Aires. Seu filho, Alex (Peter Lanzini), é uma promessa do rugby. Os jovens Guillermo (Franco Masini); e as meninas Silvia (Giselle Motta) e Adriana (Antonia Bengoechea) completam a imagem da tradicional família argentina, que ainda tem um filho (Gaston Cocchiarale) estudando no exterior. Sem levantar qualquer suspeita, Arquimedes coordena um sofisticado plano para sequestrar pessoas da alta sociedade. Após conseguir o dinheiro do resgate, ele e seus capangas assassinam sua vítima, gerando caos na capital argentina.
O filme começa com uma forte flashforward que praticamente tira qualquer dúvida sobre a história que estamos prestes a assistir. O destino dos Puccios é selado no início. Isto torna o filme ruim? Não, muito pelo contrário. Trapero foi inteligente o suficiente para perceber que este caso é muito mais do que um simples conto policial. A história real da família Puccio virou uma espécie de lenda urbana – e ainda hoje existem várias teorias para defender Arquimedes e Alex, por exemplo.
Como de costume, o diretor também dá seus pitacos sobre a história: sem envolver o espectador, ele deixa claro que a polícia argentina fechou os olhos para os crimes de Arquimedes até a pressão popular estourar. O roteiro de Esteban Student e Julian Loyola articula com perfeição a vida normal de um chefe de família com a de um líder do crime. Descarto as comparações feitas a Scorsese – muito pelo fato de acreditar que a mesma é feita apenas pelo gênero principal da película, e não pela análise técnica da mesma (talvez colocar El Clan lado a lado com alguma obra de De Palma seria mais justo para todos).
Trapero articula a excelente trilha sonora a uma edição moderna e inovadora. A fotografia trabalha a família acima de qualquer suspeitas com o uso da claridade e deixa o contraste para a noite, período dos crimes em Buenos Aires. Obviamente, o filme tem suas falhas. Por mais complexa que seja a história, Trapero poderia muito bem abocanhar o potencial ímpar de Guillermo Francella para explorar mais de sua perturbada personalidade. Mas nada que tire o brilho de seu filme. Mais uma confirmação de que o cinema argentino é o principal da América do Sul.
NOTA: 7/10
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