Antoine Fuqua é um diretor que construiu toda sua filmografia em cima de personagens detalhadamente construídos. Seja com o clássico Training Day ou até mesmo com o mais recente The Equalizer, é notável sua dedicação em cima da contextualização do ambiente proposto e de seus protagonistas. Com Southpaw (Nocaute, no Brasil) não é diferente.
Misturar boxe com drama é uma tarefa um tanto difícil. Poucos filmes fora Million Dollar Baby conseguiram despertar o interesse de um grupo homogêneo. Caso o filme percorra muito o caminho do esporte, o público do drama fugirá do cinema. E o contrário também é verdadeiro. Fuqua não parece nem um pouco preocupado em agradar diretamente algum público específico. Ao contrário, sua visão de fotografia deixa claro que ele tinha como objetivo contar uma história batida de uma maneira menos tradicional.
Colocando as cartas na mesa, é quase um clichê no cinema contemporâneo contar história de pessoas que tinham tudo em um minuto e perdem sua fortuna e o rumo de suas vidas num piscar de olhos. Se Southpaw ainda anda por tal trilha, o diferencial do roteiro de Kurt Sutter é a forma como tal desgraça cai na vida do protagonista.
Billy Hope (Jake Gyllenhaal) é o boxeador mais famoso do mundo. Com 43 vitórias em seu currículo e várias defesas de cinturão no Madison Square Garden, sua vida é regada a luxo. Sua esposa, Maureen (Rachel McAdams), é a principal responsável pela administração de sua carreira, tarefa que divide com Jordan Mains (50 Cent), que organiza lutar milionárias e gere a imagem do lutador. Maureen só participa da primeira meia hora do longa, antes de ser vítima de um incidente com Miguel Escobar (Miguel Gomez), desafiante ao título de Hope. A trágica consequência desse episódio reflete diretamente nas ações de Hope, demonstrando seu desequilíbrio emocional após perder o alicerce de sua vida.
A pesada maquiagem abre o caminho para Jake se destacar como protagonista, no papel que originalmente foi pensado para o rapper Eminen. Durante toda exibição, Hope está com a cara machucada (seja pelas lutas, ou por suas questionáveis ações cotidianas). O que chama a atenção do espectador é o fato de Hope ser um homem que abusa constantemente de substâncias ilícitas – sendo que o consumo dessas não é abordado diretamente, mas fica claro só de olhar para o rosto do protagonista, o que destaca ainda mais a qualidade da interpretação.
Cotado no início do ano como forte concorrente ao Oscar de melhor ator (o que não deve ocorrer, apesar da excelente atuação), Southpaw é mais um ponto positivo na carreira de Jake. O elenco de apoio encabeçado por Forest Whitaker demonstra competência suficiente para manter o espectador atento até a previsível cena final. Entre a queda e a redenção do campeão, as lutas de boxe apresentam um realismo bastante interessante. Apesar disso, a forte comercialização do filme (bastante comum nos últimos anos) polui visualmente a tela e cria cortes desnecessários apenas para garantir alguns dólares a mais para os produtores.
NOTA: 7/10
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