En duva satt på en gren och funderade på tillvaron (Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência, no Brasil) é um sopro de ar fresco no gênero surrealista. Último filme da trilogia da vida de Roy Andersson, esta produção sueca vencedora do Leão de Ouro do último ano ganhou notoriedade mundial por desbancar o franco favorito Birdman na ocasião.
Mesmo aqueles que não tiveram a oportunidade de assistir as duas primeiras entradas nesta série que explora o cotidiano podem desfrutar de todo o estilo e charme da produção sem se preocupar quanto a necessidade de ter informações encontradas nos filmes anteriores. Isto ocorre pelo fato da trilogia ser reunida graças a partilha de um tema específico e não de histórias.
Histórias, por sinal, é o que não falta neste caso. Com quase quarenta vignettes, a ideia de Andersson aqui foi tentar refletir sobre episódios pitorescos da vida na pequena cidade de Gotemburgo, na Suécia. O simbolismo do título veio da inspiração do quadro Caçadores na Neve, de Pieter Bruegel, o Velho. Na pintura, alguns pássaros dispostos nas árvores observam a movimentação dos caçadores. No filme, a reflexão veio para colocar o espectador no papel de um destes pássaros, acompanhando as mais variadas e absurdas histórias contadas nos 100 minutos de película.
Entre os surtos surrealistas recheados de humor, tanto os dias atuais quanto o período da Segunda Guerra Mundial e até mesmo a tentativa de invasão de Moscou pelo rei Carlos XII são contadas em ambientes que variam deste restaurantes até pequenos bares. Ao simplificar temas complexos como a morte e apostar em várias passagens que lembram sonhos, Andersson deu um passo na técnica quando comparamos com seu filme anterior, o excelente Vocês, os Vivos.
Sem nenhuma peça chave no elenco, alguns personagens são reutilizados ao longo de outras sequências. É o caso de uma dupla de vendedores que busca enriquecer com a venda de artigos de festa. Acompanhamos tanto suas tentativas fracassadas de convencer os fornecedores a comprar seus produtos como as brigas e discussões entre os dois. Eles também participam, por exemplo, da entrada triunfal de Carlos XII em um bar atrás de um copo de água com gás, sempre integrados em meio a um grupo maior de indivíduos, nunca como destaques.
Sem abusar de clichês e sem apelar para o abstrato indecifrável que se esconde por trás de filmes que se auto-intitulam como surrealistas, Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência apresenta uma dinâmica agradável ao mesmo tempo que desafiadora.
NOTA: 7/10