Decidi esperar para escrever minha análise de Fifty Shades of Grey (Cinquenta Tons de Cinza) após assistir a versão unrated e os suplementos que acompanham o filme. É compreensível que a Universal tenha cortado um bocado de cenas (sete minutos, no total) por conta do teor desta produção. Além disso, um rating NC-17 afastaria de certa forma algumas pessoas e prejudicaria bastante a arrecadação, que já chegou a incrível casa dos 600 milhões de dólares (frente a um orçamento de 40 milhões, um caso de sucesso). Dito isto, a adaptação do livro de E. L. James é uma das coisas mais ridículas dos últimos anos, já que a imposição pela aceitação de um padrão comportamental no mínimo estranho segue durante todo o filme.
Acredito que todos estejam familiarizados com a sinopse. Christian Grey (Jamie Dornan) é um homem rico e bem sucedido: dono de uma importante empresa, certo dia ele é entrevistado pela jovem Anastasia Steele (Dakota Johnson), que cai nos encantos do rapaz. Ainda virgem, a busca pelo seu grande amor sofre um baque ao descobrir seus vários segredos.
A escolha da dupla de protagonistas foi interessante para dar vida ao livro. Os dois são bonitos e desempenham com competência seus papéis. A história basicamente divide-se em duas partes: na primeira, descobrimos a rotina dos dois e observamos os primeiros encontros do “casal”. Logo depois, Grey começa uma paranóia em torno da assinatura de um contrato, onde garante a confidencialidade de tudo o que acontecerá em sua mansão (se bem que isto fica de lado na metade final do longa).
Não tive a oportunidade de ler o livro – e pelas minhas prioridades acredito que nunca vá encontrar tempo. Por este motivo, sou sincero ao afirmar que não tenho como avaliar com precisão as escolhas da adaptação e me foquei apenas no que foi exibido na tela. No entanto, li excelentes análises feitas por críticos literários dos Estados Unidos que afirmar que o tom da obra foi completamente alterado para moldar as mais duas horas de filme em torno de seus personagens, algo que desconfiei durante toda a exibição.
Ao contrário do que se pensa, Fifty Shades não é o pioneiro em tratar abertamente de prazeres sexuais ocultos (apesar de ser o filme deste tipo com maior bilheteria na história). Muito pelo contrário. O cinema europeu da década de 1980 apostou em algumas histórias deste tipo, e Steven Soderbergh ganhou fama mundial com Sex, Lies, and Videotape (1989). O padrão seguiu durante a década de 1990, onde destaco o polêmico Crash (1996). Já na década anterior, Secretary (2002) também tratou deste tema e obteve certo reconhecimento. A diferença de todas estas produções citadas para Fifty Shades está na forma com que a caracterização dos personagens foi feita. Em todos os casos anteriormente citados, os problemas pessoais são reduzidos a uma escala de análise bastante limitada, garantindo que as situações expostas só ocorrem por conta de um contexto bem definido. Até existe alguma tentativa de explicar o motivo pelo qual Christian não consegue manter uma relação “normal’, mas isto é dito de forma secundária, já que parece ser normal um bilionário bem sucedido querer dominar e humilhar uma mulher a todo custo.
Em tempo, reconheço que Fifty Shades of Grey é um caso de sucesso absoluto, e a continuação do filme deve quebrar o recorde de bilheteria imposto aqui. No entanto, acredito que a aceitação das leitoras a este longa se deu muito mais pelo fato de colocar as páginas do livro no cinema do que pela adaptação em si.
NOTA: 3/10
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