Gentleman’s Agreement (A Luz é Para Todos, no Brasil), causou mais polêmica do que qualquer outro filme da indústria estadunidense da década de 1940. Os eventos da Segunda Guerra Mundial começaram a expor cada vez mais a questão do antissemitismo para o grande público. Os judeus, outrora vítimas de desconfiança e piadas, passaram a ganhar maior exposição na mídia. O livro homônimo de Laura Z. Hobson virou bestseller nos Estados Unidos, e o diretor Elia Kazan fez um esforço significativo para comprar os direitos autorais. Em 1946, o congressista estadunidense John E. Rankin utilizou a bancada para pronunciar um longo discurso contra os judeus. Hobson escreveu o seu livro a partir da ideia que os americanos ainda mantinham um preconceito oculto, que geralmente era despertado nas palavras de ódio de um seleto grupo de políticos. Os produtores de cinema de Hollywood, no entanto, não queriam levar a história de Hobson para as telas com medo de que o longa pudesse ser interpretado como uma tentativa de propaganda, tornando a situação ainda pior. Darryl F. Zanuck, um dos poucos executivos da era dos estúdios que não era judeu, conseguiu convencer a FOX e levar a ideia adiante.
Philip Green (James Peck) é um respeitado jornalista de uma famosa revista americana. Ele recebe como pauta o tema do antissemitismo, visivelmente crescente nos Estados Unidos. Após pensar em inúmeras metodologias para tratar sobre o assunto, ele decide trocar sua identidade e sente na pele os preconceitos sofridos pelos judeus durante seis meses. A dimensão dos danos aumenta ainda mais quando seu filho também passa a ser perseguido pelos colegas na escola.
A atuação de Peck é bem forçada (e estou falando tendo em conta os padrões da época). Ele coloca demasiada emoção em diálogos secundários, parecendo que seu personagem é um grande injustiçado. Quem pega o filme na metade final, pode até se confundir com a história por alguns minutos. Mas este não chega perto do principal problema do longa, que tem um roteiro trabalhado com uma situação problemática que cresce de forma irreal e exagerada. As cenas do tal ódio contra os judeus não segue o mesmo padrão do livro, e a luta contra o relógio fez com que o desenvolvimento do longa sofresse muito. É o típico exemplo daquela película que perde seu momentum com o passar dos anos. Um ano após o filme, Kazan contou que não aprovou a forma como seu protagonista encarou cenas chave. Os dois nunca mais se falaram.
Gentleman’s Agreement ainda provaria de seu próprio veneno. Anos após a conquista do Oscar de melhor filme, todos produtores responsáveis pelo longa e Kazan foram chamados para depor no Comitê de Atividades Antiamericanas, já que alguns congressistas suspeitavam que os filmes que tratavam de judeus poderiam ter ligação direta com o comunismo.
NOTA: 6/10