Dom za vesanje (Vida Cigana, no Brasil) foi o terceiro longa metragem do diretor Emir Kusturica.
Filmado em dialeto local, a escolha dos personagens foi muito bem feita. Digo isto pois cada um deles tem uma peculiaridade que se destaca desde sua primeira apresentação. Perhan (Davor Dujmovic), o protagonista deste longa, é um menino de bom coração, honesto e querido pelos vizinhos. Ele vive com sua mãe (Ljubica Adzovic), a curandeira do pobre vilarejo que prega por uma vida humilde mas com dignidade. O problema esta na figura do tio Merdzan (Husnija Hasimovic), um alcoólatra e viciado em jogos. Eles sofrem com a doença da pequena Danira (Elvira Sali), que nasceu com problemas ósseos e precisa de uma cirurgia para poder levar uma vida normal. A vida desta família vira de cabeça para baixo quando o menino se apaixona por Azra (Sinolicka Trpkova) e vê seu pedido de união negado pela mãe da menina por conta de sua falta de dinheiro. Ele se une ao vigarista Ahmed (Bora Todorović) e parte para Milão com o objetivo de arranjar dinheiro para dar um futuro melhor para sua amada e ajudar seus queridos.
A Vida Cigana nos apresenta um número muito grande de situações incomuns, que, por se tratar de uma cultura diferente, não deixa de ser engraçado e bizarro. As cenas de loucuras de Merdzan pedindo dinheiro para sua família ou a viagem de Perhan, para Roma trazem situações absurdas que conseguem satisfazer até mesmo o espectador mais exigente. Só basta deixar de lado o preconceito bobo que ainda existe na cabeça de muitas pessoas em se tratando de cinema europeu. O elemento mágico e surreal (telecinésia de Perhan) apresentado no filme é explorado de maneira leve, apenas em cenas decisivas. A elogiada preocupação do diretor com a trilha de seus filmes também pode ser percebida aqui, já que a banda sonora não é apenas um elemento secundário, mas faz parte do andamento de toda esta produção.
Talvez o principal problema do filme seja sua riqueza tão grande de pessoas e conteúdo: pode soar estranho, mas em algumas cenas parece que a tentativa de recriar com precisão o pobre vilarejo deixa em aberto alguns buracos no roteiro. Mas este não chega a ser um ponto negativo. A versão original do longa tem 270 minutos, e foi cortada para pouco mais de duas horas a pedido dos distribuidores. Este é aquele caso típico de um filme em que você não entende 100% de primeira, por isto assistir novamente não é uma má ideia. E recomendo fortemente ir atrás da versão estendida para uma imersão total, sem os cortes que prejudicaram tanto o andamento de cenas chave.
Além de Kusturica ganhar o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes, em 1990, a série de aplausos de cinco minutos ininterruptos marcaram definitivamente este bom longa metragem.
NOTA:7/10