Quem gosta de moda talvez aprecie Yves Saint Laurent, cinebiografia não autorizada de Jalil Lespert baseado no bestseller de Laurence Benaïm. Quem conhece Yves ficou chocado com o longa. E quem pouco entende do tema fica perdido e surpreso com o potencial desperdiçado.
O grande problema deste longa é querer analisar uma vida de um dos homens mais influentes da história da moda em 106 minutos e fazer um péssimo recorte de seu objeto principal. Pois é, ao invés de explorar suas polêmicas, e até mesmo suas tendências, como o prêt-à-porter (que, por sinal, é porcamente aproveitado neste filme), os roteiristas romantizaram a história a tal ponto de mostrar apenas mais uma história de amor gay. Pierre Bergé não gostou nada de sua caracterização, e não podia deixar de ser diferente: ele não é tratado por nem um segundo como o braço de apoio de Yves, mas apenas como seu amante e empregado. Nem mesmo a ruptura do estilista com Christian Dior é mostrada de forma satisfatória.
O ponto positivo – e não poderia deixar de ser diferente – é a cuidadosa pesquisa feita em torno das vestimentas. A grande Aline Bonetto, que também comandou o design de Le fabuleux destin d’Amélie Poulain, salva o filme de um fracasso total.
Mais um claro exemplo de como o cinema deve ser cuidadoso com estas adaptações. Muitas vezes o projeto é tão grandioso que apenas um filme não seria suficiente. Nestes casos, a melhor coisa a se fazer é deixar muito claro para o espectador um recorte temporal que possa ser analisado e acompanhado sem pressa e sem deixar grandes lacunas. Neste filme, por exemplo, após o rompimento de Bergé e Laurent existe um furo de 30 anos no roteiro. Mas a grande promessa para este ano de 2014 é outra cinebiografia de Laurent. Com direção de Bertrand Bonello, Saint Laurent surpreendeu os críticos no Festival de Cannes. É esperar para ver.
NOTA: 4/10