Asghar Farhadi levou para o Irã o Oscar de melhor película estrangeira em 2012 com o excelente Jodaeiye Nader az Simin (A Separação). Seu novo filme, Le passé (O Passado, no Brasil) aproveita a fórmula de sucesso e apresenta na tela um drama familiar chocante que se distancia muito do que está sendo produzido nos Estados Unidos.
Ahmad (Ali Mosaffa) chega a Paris para finalizar seu divórcio com Marie (Bérénice Bejo), quatro anos após sua separação. Aos poucos ele descobre que sua ex-mulher agora está em um relacionamento sério com Samir (Tahar Rahim), um misterioso árabe atormentado pela tentativa de suicídio de sua esposa, agora em coma. Ao mesmo tempo em que o espectador descobre junto com Ahmad os problemas que envolvem Samir e Marie, o personagem interpretado por Mosaffa também é o responsável por mediar a turbulenta relação entre a mulher e sua filha Lucie (Pauline Burlet), que não aceita de nenhuma maneira o relacionamento de sua mãe com o Samir.
Esta produção aposta em diálogos pesados e gira em torno de um clima de tensão que dura até o último segundo. A relação entre a tentativa de suicídio da mulher de Samir com Marie é desvendada de forma impressionante. Aqui gostaria de fazer uma menção ao drama August: Osage County para diferenciar os estilos de direção: enquanto Farhadi tem como objetivo reconstruir o passado através de uma investigação que envolve todos os personagens de sua história, o longa de John Wells estrelado por Meryl Streep e Julia Roberts aposta em um roteiro que tenta tirar coelhos de uma cartola vazia e jogar a todo custo sentimentos de surpresa e desprezo no seu espectador. Enquanto nos Estados Unidos o apelo comercial parece cada vez mais estar influenciando o “gênero pai” do cinema, como dizia Douglas Fairbanks, o cinema europeu e as surpreendentes produções iranianas recentes formam uma barreira de resistência às influências de Hollywood e se recriam em busca da compreensão dos problemas apresentados.
A grande questão que fica para quem assiste este filme envolve diretamente seu título: seria possível esquecer todo passado para construir uma vida nova? Asghar Farhadi nos mostra que está tarefa é praticamente impossível quando nossos atos atingem diretamente pessoas fora de nosso círculo de convivência. Quando Marie explica que está grávida de Samir, o passado certamente estará amarrado no futuro (o leitor irá compreender esta passagem ao se deparar com uma grave revelação de Lucie na hora final e a reação em cadeia gerada por tal ato).
Apesar de a história ser muito mais simples e menos ambiciosa do que vimos em A Separação, as atuações de classe de Bejo e Mosaffa dão vida a personagens únicos em um roteiro muito bem trabalhado com uma direção limpa.
NOTA: 7/10