Frankenstein adota um padrão de filme de terror muito parecido ao de Drácula, produzido apenas um ano antes: um personagem sobrenatural que passa a conviver com um grupo reduzido de pessoas e tem sua natureza questionada por um expert.
Heinrich “Henry” Frankenstein (Colin Clive) é um cientista com altas pretensões: ele não se interessa em estudar apenas sobre o corpo humano, mas sim recriar um humano a partir de partes de outros corpos. Para tanto ele aposta no sucesso de um aparelho elétrico aparentemente perfeito. Sua noiva (Mae Clarke) parece descontente, já que vê Henry afastado dela justamente no período em que eles vão se casar. Ela se reúne com um amigo e com Dr. Waldman (Edward Van Sloan, o expert citado acima e o mesmo ator que interpretou Van Helsing em Drácula) na torre abandonada em que Frankenstein faz seus testes. Para surpresa de todos eles descobrem que o cientista está a um passo de dar vida para uma das criaturas mais abomináveis de todos os tempos: o chamado monstro de Frankenstein (Boris Karloff).
Se Drácula foi promovido como o filme mais aterrorizante da história do cinema, os produtores por trás de Frankenstein não deixaram por menos. Logo nos minutos finais do longa Edward Van Sloan parece quebrar a quarta parede ao sair de trás das cortinas e dar uma mensagem direta ao espectador:
Como vai? O senhor Carl Laemmle (produtor do longa) sente que seria um pouco desagradável apresentar esta película sem lançar um conselho amigo: nós estamos prestes a desvendar a história de Frankenstein, um homem da ciência que queria criar um homem a partir de sua própria imagem sem dar explicações a Deus. É uma das histórias mais estranhas já contadas. Envolve com dois grandes mistérios da criação; a vida e a morte. Eu acho que a história deve arrepiar você. Talvez você possa se sentir chocado. Ou até mesmo aterrorizado. Se de alguma maneira não se importa em expor seus nervos a este tipo de tensão, você pode – ah, bem, nós avisamos você!
Este tipo de terror se diferencia de Drácula em vários sentidos. O principal deles envolve o clímax em torno do personagem central: enquanto o espectador sabe desde o primeiro segundo sobre os poderes do Conde, em Frankenstein não sabemos do que o personagem principal é capaz. Ao mesmo tempo em que ele pode parecer amigável brincando com uma menina, ele também é capaz de atira-la em um lago e causar seu afogamento. O perigo de Drácula é iminente; o de Frankenstein construído aos poucos. Claro que o roteiro não é a oitava maravilha. Os vários cortes feitos a obra original de Mary Shelley podem ser explicados pelo apertado orçamento aliado a tendência de tentar fazer um filme bastante rápido.
Não poderia deixar de mencionar uma das grandes histórias do cinema da década de 1930, que envovem diretamente este longa: foi oferecido a Bela Lugosi o papel de Henry Frankenstein, mas os produtores recuaram por achar que seu sotaque forte poderia confundir o espectador e herdar elementos indesejados de Drácula. Como compensação, Carl Laemmle deu a ele o papel de monstro, mas Bela rejeitou prontamente por não gostar do roteiro. Poucos sabem da história real, mas Lugosi só deixou a produção pois a produção que seria dirigida por Robert Florey devido ao fato do monstro ser concebido apenas para matar. Florey foi despedido, James Whale entrou no seu lugar, colocou o Boris Karloff e fez muito dinheiro. Este seria o começo do fim da carreira de Lugosi, que menos de um ano depois de chegar ao estrelato já passou a ser deixado de lado quando comparado a Boris.
O padrão de estética e a construção do roteiro se mostraram uma fórmula para o sucesso. Não é por menos que em 1932 a Universal decidiu produzir The Mummy no mesmo estilo. Um clássico do gênero!
NOTA: 7/10
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