Certa vez Ingmar Bergman disse que Liv Ullmann era seu Stradivarius. Para entender esta afirmativa, o documentário Liv & Ingmar (Liv & Igmar – Uma História de Amor, no Brasil) aborda o tão discutido relacionamento entre o diretor sueco com sua musa inspiradora.
O relacionamento de 42 anos é dividido em vários capítulos. O primeiro deles trata sobre o amor a primeira vista. Ullmann e Bergman se conheceram quando ela tinha 25 e ele 46 anos. Os dois eram casados e deixaram de lado suas vidas para viver um romance típico de cinema. Liv conta que estava empolgada em dividir seu tempo com uma pessoa tão inteligente e culta como Ingmar. Ela disse que este amor rompia a barreira do físico e podia ser notado nos pequenos detalhes que são apresentados neste filme através de variadas citações retiradas das cartas e declarações de amor feitas pelo diretor ao longo dos anos. Durante as gravações de Persona Liv engravidou e deu a luz para Linn (hoje uma popular crítica literária da Noruega).
E foi justamente o nascimento da menina que deu inicio a fase de “solidão”. Ullman relembra que ficou muito tempo pensando o porquê Ingmar a deixava de lado e não podia dedicar seu tempo integral para ela como em um casal normal.
O abandono e o afastamento trouxeram o período de “raiva”, onde ocorreu um breve distanciamento, muito devido ao ciúme excessivo do sueco: ele chegou ao ponto de colocar uma regra onde Liv somente podia sair de casa e manter contato com o mundo externo uma vez por semana. Conhecendo Bergman como a palma de sua mão, Liv aos poucos deixou de ser cega e para os erros e fraquezas de Ingmar (que provavelmente envolveram relações de amor com outras atrizes). A admiração desapareceu por completo, mas o respeito pelo homem crescia cada dia mais. Foi então que ela descobriu que realmente amava o sueco.
A “saudade” e a “amizade” caminharam juntas por um longo período. Liv conta sobre seu período em Hollywood, quando apelidade de nova Greta Garbo e fala de todo apoio de Bergman. Mesmo odiando viagens de avião, Bergman cruzou o oceano e fez questão de acompanhar os espetáculos de sua amada (ou amiga) na Broadway. Os longos períodos de abstinência física eram seguidos por longas conversas e muitas risadas O filme acaba com o relato da última conversa entre Liv e Bergman, justamente no dia da morte do diretor, em 2007.
A narrativa do filme é muito suave, acompanhada de uma ótima trilha sonora e com imagens dos mais variados longas da dupla, que vão desde Persona (1966) até Saraband (2003). A atitude de Liv abrir seu coração foi muito sincera e honesta, já que é possível perceber o carinho ímpar que ela tinha pelo diretor. Como ela mesmo havia escrito, eles sempre estiveram dolorosamente unidos. Relato fantástico sobre uma das parcerias mais bonitas e vencedoras do cinema europeu.
NOTA: 7/10