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Peterloo - Crítica do filme de Mike Leigh

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Peterloo – 2018

Mike Leigh tem como marca o cinema íntimo – e pode soar estranho sua assinatura em um épico como Peterloo – que lembra os 200 anos do ataque da cavalaria aos mais de 60 mil cidadãos que exigiam reforma parlamentar, posteriormente classificado pela historiografia como ‘massacre’ por conta da brutalidade e das mortes decorrentes. O diretor justifica essa entrada incomum na sua filmografia pelo fato de que poucas escolas britânicas tratam sobre o caso – ele mesmo diz que somente teve conhecimento do episódio muitos anos depois da escola, após a leitura de um livro. Mas da mesma forma que é possível aproveitar o filme como uma ferramenta para ensino, existe uma outra realidade que torna a experiência cinematográfica muito restritiva.

Os minutos iniciais de um longa-metragem são vitais para despertar o interesse do espectador, apresentar o pano de fundo e armar o campo para a história que será apresentada na tela. Neste caso, Leigh faz um balanço interessante do período pós Guerras Napoleônicas – com o Reino Unido atingido por uma crise econômica que gera fome e desemprego. Qualquer outro diretor ficaria satisfeito com um prólogo curto para desenvolver o foco da trama na sequência, mas estamos falando de Mike Leigh. Sua marca é notável a partir do momento em que ele começa a circular por Manchester e passa um bom tempo construindo seus personagens. Para um filme de duas horas e meia de rodagem, é justo dizer que Leigh demora muito para engatar a narrativa por conta desta preocupação de colocar na tela diferentes realidades. Da mesma forma que é bonito ver o cuidado que ele tem com essa produção – desde a parte técnica até as linhas de diálogo com vícios de linguagem tradicionais do inglês moderno  – apenas com uma hora de rodagem Peterloo começa a propor uma história de fato, quando a carruagem do Rei Jorge IV é atingida por uma pedra.

Como é padrão neste tipo de produção, Leigh opta por rechear seu filme de personagens históricos, uma recompensa para quem tem conhecimento prévio sobre o massacre. Dentre tantos, a oratória de Henry Hunt (Rory Kinnear) é destaque e acaba se tornando vital para entender como o radicalismo político passou a ser abraçado por boa parte da população.

Mesmo assim, o filme sempre mantém um tom restritivo – fechando em uma proposta que vai interessar muito quem gosta de história e quem é fã do diretor, mas com pouco potencial para quem busca entretenimento ou mesmo tomar conta da realidade construída em torno da experiência do começo do século XIX. O evento propriamente dito toma apenas dez minutos de rodagem – conteúdo que poderia ter muito mais destaque com outra abordagem. E, por incrível que pareça, Leigh abandona o espectador ao abrir mão de um epílogo, que seria fundamental para o público entender a dimensão do evento – especialmente nas questões referentes ao parlamento.

Quem assiste o filme com conhecimento prévio da história, tem em Peterloo um complemento autoral e interessante aos livros; do contrário, a solução é procurar no Google mais informações no final da rodagem.

NOTA: 6/10

IMDb

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