Quando o crítico francês Raphael Bassan classificou Luc Besson como um diretor ‘le look‘ – que valorizava o visual e a estilística de seus filmes em detrimento da continuidade – ele também apontava para a obsessão com os jovens – talvez um reflexo das incertezas do período de François Mitterrand na França. Desde então, Besson conseguiu amplo destaque mundial, consolidou um padrão e criou uma identidade própria no cinema. Uma pena que nada disso é aproveitado em Anna (Anna: O Perigo Tem Nome, no Brasil).
Acredito que até mesmo o maior fã de filmes deste tipo terá dificuldade para aceitar o posicionamento da modelo Sasha Luss como protagonista. Apesar de dedicar cerca de trinta minutos para apresentar o pano de fundo da personagem entre Moscou e Paris na transição dos anos 80 para os anos 90, a linha de argumentação é extremamente pobre. Até que a base geral do filme lembra muito a construção em torno de Nikita (1990) – um dos maiores sucessos da filmografia de Besson. Protagonista feminina, nova identidade e espionagem. Mas as coincidências param por aí. Se Besson conseguiu tornar a atriz Anne Parillaud em um símbolo de inspiração para o sub-gênero de ação que envolve mulheres assassinas como protagonistas, o mesmo cuidado não é aplicado na atriz Luss: o foco está na captação da beleza com um exagerado número de closes e a invocação ao contraditório a partir do momento em que mostra ao espectador a veia mortal da assassina.
O que mais me impressionou, de modo geral, é a total falta de cuidado com o eixo temporal. Repetidamente o diretor pontua avanços e retrocessos na narrativa com a marcação de anos e meses, o que evidencia o arrasto da trama. Fora isso, inúmeros anacronismos que são imperdoáveis em um filme contemporâneo: tecnologia como notebooks, celulares e pendrives são literalmente atiradas na história – mesmo que o uso destes só fossem introduzidos no cotidiano anos depois do período ambientado no filme. Não tem boa fé que aguente.
Anna é um filme sem identidade própria, que consegue ser uma versão piorada do próprio remake de Nikita (Point of No Return, 1993). É uma pena ver que Besson se rendeu aos clichês do gênero e entrou em uma zona de conforto na qual. Um dos piores filmes com posicionamento de uma mulher assassina. E não é exagero dizer que é o tipo de produção que tenta captar atenção por conta de uma grande cena. A falta de direcionamento para um público alvo específico, por sinal, explica o fracasso nas bilheterias dos EUA e Reino Unido – que deixa Anna como uma das maiores decepções do ano tanto pela qualidade do projeto quanto pelo resultado final.
NOTA: 3/10