The Hustle (As Trapaceiras, no Brasil) consegue a proeza de entregar ao público uma comédia desorientada, sem uma possibilidade de sequer uma risada efetiva. Não existe conexão entre protagonistas, e não existe profundidade na análise do pano de fundo proposto. É óbvio que parte da culpa deve ser transferida para o estreante diretor Chris Addison – que é a prova perfeita de como é difícil levar um filme deste gênero para o cinema, mesmo com um histórico e carreira consolidada.
Josephine Chesterfield (Anne Hathaway) aplica golpes na França e diz que parte de seu sucesso se dá pelo fato de que os homens não conseguem acreditar que uma mulher possa ser mais inteligente que eles. Penny (Rebel Wilson) se especializou em golpes pela internet, e as duas acabam se encontrando na Costa Azul – onde, após uma aproximação inicial, acabam disputando o dinheiro do bilionário Westerberg (Alex Sharp).
O remake de Dirty Rotten Scoundrels (Os Safados, 1988) sequer consegue atualizar as piadas de Steve Martin e Michael Caine. É verdade que este filme não foi um sucesso em sua época, mas foi extremamente efetivo por conseguir buscar o potencial dos atores. O grande problema de The Hustle está na indefinição inicial no rumo do humor que, desesperadamente, tenta usar artimanhas para criar algum tipo de empatia: Hathaway usa o charme e atua discretamente; Wilson – que deveria ser engraçada – até tenta se encontrar em péssimas linhas de diálogo, mas a tarefa era muito difícil.
Existe uma separação tão grande entre a construção e desenvolvimento das duas protagonistas que é lamentável observar o talento desperdiçado – visto que The Hustle será um ponto bem negativo para todos os envolvidos. A produção, de modo geral, é simples, barata e direta. Durante o processo criativo, alguém deve ter pensado que a transformação de um roteiro com mais de trinta anos deve focar apenas na inserção do cotidiano (como internet e redes sociais). A base de Dirty Rotten Scoundrels – é seguida, mas o toque e a leveza do humor do original (ainda que algumas cenas não tenham envelhecido bem) dão espaço para uma coleção de clichês absurdos, com buracos de roteiro que desafiam a boa fé do espectador. O avanço temporal é produto de um pensamento típico para a televisão – talvez por conta do costume de Addison, e questões abertas nunca são propriamente respondidas.
A pior comédia de 2019 até agora.
NOTA: 3/10