Tenho o maior carinho por Aladdin, clássica animação de 1992 que marcou época pela qualidade da história e dos personagens. Obviamente um remake deste calibre teria um grande peso – e o diretor Guy Ritchie tinha plena noção disso ao receber a luz verde da Disney para organizar a produção. Se é verdade que a versão de 2019 de Aladdin não tenta desconstruir a história, as leves alterações no roteiro devem ser o suficiente para gerar controvérsia entre os fãs do desenho.
É interessante ressaltar que você assistirá aqui a mesma narrativa de 1992, com cerca de meia hora de cenas extras (intercaladas entre novos atos musicais e abertura de alguns pontos chaves da trama). O trato com o material base, neste caso, é feito de forma muito mais respeitosa do que Dumbo, que foi completamente descaracterizado pela Disney. Da parte técnica, destaco o bom trabalho de figurino e de direção de arte. Fora isso, é notável os problemas de construção na questão de efeitos especiais (extremamente destoantes, especialmente em torno de Will Smith). Os atos musicais lembram Bollywood na extravagância, uma opção que considero válida ao analisar o contexto.
Como temos 27 anos de diferença entre o desenho e o remake, houve o cuidado de trabalhar o filme para uma aceitação global, sem entrar em maiores polêmicas. Sabendo das divergências do mundo ocidental com o mundo árabe, algumas piadas foram extintas, outras alteradas e Jasmine (Naomi Scott) teve um importante aumento na influência da história, a ponto de mostrar sua vertente feminista e tomar conta da tela, deixando Aladdin (Mena Massoud) de lado. O casting, no geral, é interessante, com destaque para a ótima atuação de Marwan Kenzari, que interpreta um revigorado Jafar. A polêmica talvez esteja voltada em torno do gênio de Will Smith: todos sabiam que seria uma dura tarefa tentar criar um personagem que ficou famoso com a voz de Robin Williams. Com seus trejeitos, Smith tenta criar uma identidade própria para o gênio, mas que não me convenceu. Mas, admito, minha percepção pode ter influência da memória nostálgica.
Por vezes a história é arrastada, um indicativo claro que os 90 minutos de 1992 eram mágicos e sólidos. Guy Ritchie parece satisfeito ao prolongar diálogos e atos na busca de um close perfeito ou de um tracking shot que mostre os pontos positivos e os detalhes de seu novo mundo – uma opção esquisita.
Após o recente fracasso de Dumbo, a Disney tentou ao máximo esconder Aladdin (promoveu sessões de críticos com antecedência e, ainda assim, limitou o embargo para apenas um dia antes da estreia, temendo um chuva negativa de reviews que pudessem influenciar o público). Tal decisão é extremamente controversa, mas coerente tendo em vista o planejamento estratégico da distribuidora nestes últimos anos. Se o filme não é bom o suficiente para conseguir atingir o consenso, não é o desastre anunciado que se pensava apenas pela análise inicial do trailer. Ainda assim, aumenta a responsabilidade de The Lion King, uma das produções mais aguardadas dos últimos anos – que não pode se contentar com este nível mediano das produções recentes da Disney.
Comentário em vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=3ftdA1L2OYU
NOTA: 6/10