Dan Gilroy está ganhando espaço no mercado estadunidense como um roteirista e diretor interessado na relação do protagonista com o mundo proposto no filme, conforme apresentado em Nightcrawler e Roman J. Israel Esq. Em Velvet Buzzsaw, Gilroy mantém o alto nível das produções anteriores e adiciona um tom de sátira que torna o filme atraente e imprevisível.
A sátira geralmente tem uma recepção contida nos cinemas. É comum que o espectador prefira por longas mais estruturados e com narrativa mais contínua. Quando a interpretação é necessária, algumas barreiras são impostas e elas dependem exclusivamente da aceitação do espectador. No caso de Velvet Buzzsaw, a compreensão da crítica social feita por Gilroy é vital para que a experiência se torne agradável.
Morf Vandewalt (Jake Gyllenhaal) é um conceituado crítico de arte estadunidense. Suas opiniões são aguardadas e temidas. Bissexual, ele acaba se relacionando com Josephina (Zawe Ashton) – que busca crescimento no campo artístico. Quando seu vizinho morre e deixa centenas de pinturas, ela intercepta as obras ao invés de destruí-las. É isto que permite a mudança de eixo do filme.
Jake Gyllenhaal é um ator extremamente talentoso – e demonstra toda sua capacidade em um personagem dinâmico e que oferece muito espaço para análise. Os coadjuvantes que lhe rondam possuem características peculiares e a interação é excelente.
Existe, é claro, um alto grau de simbolismo que pode tornar o filme interessante para quem for assistir pela segunda vez, focando em detalhes secundários ao invés da narrativa. A transição da narrativa para o “terror” – se é que posso classificar desta forma – é feita de forma lenta, mas recompensadora. A crítica em torno do mercado artístico contemporâneo é constituída por Gilroy também na visão de punição – focando especialmente em Josephina, que claramente prefere o dinheiro do que a própria arte.
Produzido pela Netflix e adicionado ao catálogo apenas dias depois de sua estreia em Sundance, Velvet Buzzsaw tem um padrão técnico muito semelhante ao testemunhado em Nightcrawler, especialmente no clima de tensão nas cenas abertas e na boa articulação entre direção de arte e trilha sonora. Após o fracasso de Polar, a Netflix entrega um filme de alto nível – que pode ser um indicativo positivo para o futuro.
NOTA: 7/10