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Os dez melhores filmes de 2018

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Os dez melhores filmes de 2018

Com o final de mais uma temporada, e mantendo minha tradição anual, entrego a lista dos dez melhores filmes do ano passado. Assisti 255 produções de 2018 (fora os filmes antigos) – divididas entre três festivais, screeners, home video, streaming e on demand.

Geralmente é difícil montar uma lista destas. Sinto por ter deixado de fora Green Book, First Man, Roma e Cold War, por exemplo. O primeiro se destaca pelo nível da atuação da dupla de protagonistas; os outros três, pelo impecável trabalho técnico. Mas a análise geral das propostas deve ser feita – e este foi o meu critério aqui, também seguindo o teor do que venho publicando durante todo este ano. Lembro-me, neste caso, das críticas feitas ao lendário Roger Ebert por ter avaliado Benji the Hunted de forma positiva e Full Metal Jacket de forma negativa no mesmo programa (pra quem quiser assistir, é imperdível – especialmente após os quatro minutos). Sigo a mesma visão de Roger: o filme deve ser avaliado dentro de seu contexto e proposta geral.

Vamos aos dez melhores:

10) Capharnaüm

O incrível drama social de Nadine Labaki é extremamente relevante por discutir cultura e religião, além de dar um bom olhar para questões importantes da atualidade, como a crise dos refugiados. Conta com uma atuação brilhante de seu protagonista, que é justamente um refugiado sírio no Líbano e que sofreu muito com o preconceito. Excelente desenvolvimento narrativo.

9) The Mule

Fico extremamente tranquilo ao dizer que The Mule possui uma excelente argumentação e construção de Clint Eastwood – para o que foi proposto. Sinto muito pela falta de visibilidade do filme na temporada de premiações – extremamente atingida pela onda anti-Clint em Hollywood – mas a adaptação do artigo do The New York Times mostra a visão de cinema do realizador estadunidense, que não dá sinais de que vai parar tão cedo. Apesar disso, provavelmente é a despedida de Clint como ator. Alinho-me a Cahiers du Cinéma ao considerar uma das melhores adições na filmografia de Clint.

8) Burning

O tipo de thriller psicológico desenvolvido na Coreia do Sul nestes últimos anos me agrada muito – e Burning está no topo destas produções recentes, atingindo um nível extraordinário de articulação e fundamentação de roteiro. Três protagonistas com várias facetas, potencial de exploração e descoberta do espectador.

7) Shoplifters

O drama japonês mostra uma realidade social vivenciada por milhares no país mas que é ignorada no exterior. É um filme lento, de avanços contidos na questão estrutural, mas que recompensa quem estiver disposto a acompanhar a jornada da família.

6) The Old Man & The Gun

David Lowery mais uma vez sofreu com a péssima distribuição de seu filme, assim como aconteceu com A Ghost Story. Mas não se deixe levar pela falta de reconhecimento em Hollywood: The Old Man & The Gun, despedida de Robert Redford como ator, propõe uma extraordinária articulação entre personagem e história – criando um dos melhores anti-heróis do cinema estadunidense. É uma linda carta legado que destaca a qualidade de Redford, inigualável.

5) Hereditary

Tenho várias restrições ao gênero terror – especialmente com as convenções e clichês estabelecidos nos últimos vinte anos. O filme de Ari Aster deixa tudo isso de lado e consegue transmitir tensão a partir de um roteiro original e polido, com uma atuação espetacular de Toni Collette – que ganhou reconhecimento dos críticos mas que infelizmente não obteve nomeações em sindicatos e na Academia pelo notório preconceito com o gênero.

4) A Star is Born

Quando Clint Eastwood entrou no projeto, a Warner já parecia preocupada com o peso de um filme foi sucesso em diferentes épocas. Quando Bradley assumiu o posto da direção no lugar de Clint, os desafios aumentaram – e vários questionamentos colocaram em risco o projeto. Apesar dos esnobes na temporada de premiações, A Star is Born destaca Cooper como um excelente ator e diretor com muito potencial, uma vez que conseguiu trabalhar muito bem duas histórias diferentes dentro de um roteiro que respeita os filmes anteriores, mas que promove sua própria história. A participação de Gaga, neste caso, apenas acrescentou qualidade.

3) Annihilation

Sim, essa deve ser a escolha mais polêmica dessa lista, uma vez que a Paramount preferiu vender os direitos de distribuição fora dos EUA pra a Netflix por temer um fracasso de bilheteria. Mas só tenho elogios ao filme de Alex Garland. Li a obra de Jeff VanderMeer e fiquei espantado com a qualidade da adaptação, que consegue, ao mesmo tempo, seguir o fluxo do livro e criar novos elementos simbólicos dentro de uma proposta inovadora, mas restritiva. Destaque para o trabalho de edição e efeitos, além da grande atuação de Natalie Portman. Pelo menos sei que o Barack Obama concorda comigo nessa.

2) The Favourite

Além do destacado trabalho de direção de arte – um dos melhores das últimas décadas – a narrativa do grego Yorgos Lanthimos sabe dar espaço para três atrizes no topo de suas carreiras. O delicioso humor e a disputa pelo poder tornam a base histórica do filme ainda mais relevante, com uma interpretação original e autoral sobre a corte da Rainha Ana.

1) Pajaros de Verano

Uma experiência única. O cinema colombiano demonstra uma evolução impressionante. Com direção de Ciro Guerra e Cristina Gallego – o filme mostra a ascenção e queda de uma família que comandava o tráfico de maconha na Colômbia. Diálogos polidos e montagem de primeira linha. O melhor de tudo? A excepcional mediação e reflexão sobre sincretismo cultural, em um trabalho que marca época e que foi justamente lembrado na pré-lista do Oscar deste ano. Torço para que tenha um lançamento nos cinemas brasileiros durante 2019, pois é uma experiência impactante!

 

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