Qualquer documentário que proponha, em última instância, a análise da conjuntura política de um determinado local precisa ter três noções: a do comprometimento com o tema, de buscar a verdade e o direito de ampla defesa. Existe uma fina linha que separa um documentário político de um documentário propagandista. Por mais nobre que seja o tema de Dark Money – tendo em conta a boa fé do diretor e produtores – faltou dar espaço e voz para o outro lado, ainda que tais posições possam soar repugnantes.
Dirigido por Kimberly Reed, a produção explora os grupos ocultos que fazem lobby nos Estados Unidos, despejando milhões de dólares em políticos para comprometimento com sua pauta. A partir do histórico de enfrentamentos no estado de Montana – sem dúvida o que mais gerou polêmica desde o início deste milênio – o foco é descobrir quem são as pessoas e a ameaça destes grupos ao sistema democrático estadunidense.
Com uma linha de análise linear e pausada, o direcionamento de Dark Money é feito para privilegiar histórias de pessoas que lutam diariamente contra os abusos que ganharam força após a decisão da Suprema Corte no caso Citizens United.
Entendo perfeitamente, neste caso, que a realizadora busque sair de sua zona de conforto ao se engajar com o tema que propõe. Reed não tem medo de dar sua opinião e moldar sua proposta de acordo com o que acha certo. Para isso, contou com entrevistas de importantes figuras políticas de Montana – desde o poder executivo até figuras do judiciário – para entender o motivo pelo qual as corporações buscam o alinhamento com políticos locais.
Se o ponto forte do documentário é explorar com propriedade o contexto político do estado – ela comete graves falhas ao apressar a entrada da Federal Election Commission, que apenas prejudicam seu ponto de raciocínio. Também não ajuda a seleção de imagens feitas para ilustrar os comentários – perdidas entre arquivos da era Nixon até protestos do período Obama.
Dark Money conta com entrevistas de republicanos perseguidos pelos grandes grupos que fazem a propaganda suja nas campanhas. Isto ocorre para tentar amenizar uma possível classificação anti-republicana, que naturalmente poderia/deve ser feita por think tanks conservadores. O problema é que o filme encaminha suas conclusões em torno de uma pesada história e não abre espaço para defesa, como se o ponto levantado pela diretora fosse consenso e como se o posicionamento da Suprema Corte tivesse interesses por trás. Com o tema que tinha em mãos, Reed foi ambiciosa e errou ao dar um passo maior do que poderia.
NOTA: 6/10