Dias atrás iniciei um estudo que faço anualmente sobre o balanço de bilheteria nos Estados Unidos, com o objetivo de analisar as tendências do mercado e também estabelecer um parâmetro de comparação com a realidade brasileira. A Simple Favor (Um Pequeno Favor, no Brasil) – na minha visão – é um dos casos mais interessantes de 2018, visto que teve um resultado positivo nos Estados Unidos e obteve sucesso em um bocado de países mundo afora, mesmo sem um grande trabalho de marketing ou história sensacional.
O filme dirigido por Paul Feig, na verdade, busca uma sustentação no tradicional thriller que promete uma surpresa no desenrolar da narrativa para finalizar o longa com um plot twist – cada vez mais comum, diga-se de passagem.
Stephanie (Anna Kendrick) é viúva e dedica seu tempo para fazer vídeos na internet. Seu filho cria uma amizade com o filho de Emily (Blake Lively) – e logo as duas também se aproximam, trocando experiências, contando segredos e observando as profundas diferenças entre dois estilos de vida. Certo dia, Emily desaparece, despertando a atenção da polícia e de seu marido, Sam (Henry Golding), que busca respostas para o fato e fica íntimo de Stephanie.
Não temos um roteiro refinado ou atuações memoráveis. Na realidade, a produção aposta em uma mistura de comédia e drama que tem seu ponto alto em uma ótima lembrança sobre Les diaboliques, de Henri-Georges Clouzot.
Para fortalecer uma espécie de triângulo amoroso que ganha espaço apenas para justificar as cenas finais, pontos relevantes da narrativa são deixados de lado, especialmente sobre a vida afetiva de Stephanie, discutidos rapidamente e com pouca inspiração.
Como explicar, então, que um filme razoável tenha tamanho sucesso de bilheteria, com quase 100 milhões de dólares no mundo? A resposta está na análise da seca de bons filmes entre setembro e outubro – justamente a janela deste longa, que soube aproveitar a imagem de Anna Kendrick como um trunfo.
Falta paixão e falta coesão para A Simple Favor. E, quem sabe, uma reflexão para Feig, que insiste em emular elementos estéticos e discursivos típicos da televisão para o cinema.
NOTA: 5/10