O sonho de qualquer documentarista é ter todo aparato que o diretor Jack Bryan teve em Active Measures, produção que trata sobre a interferência russa na eleição presidencial estadunidense em 2016. Além de uma competente equipe de produção, que obviamente fez o dever de casa e apresenta informações relevantes ao espectador, a seleção de entrevistados é invejável. Cabe aqui, no entanto, uma série de considerações sobre o documentário per se.
Quando um documentarista propõe uma narrativa, é óbvio que as conexões traçadas devem ser boas suficientes para serem sustentadas. A premissa de Active Measures é interessante: analisar a ascensão de Putin na política russa – tratando com extrema propriedade a transição da União Soviética e o domínio da oligarquia na década de 1990 – para então analisar o interesse do presidente russo nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, Bryan faz questão de explorar os podres de Donald Trump e sua ligação com os russos desde a década de 1980.
A costura dos fatos que é feita por Bryan, no entanto, perde força ao vincular Hillary Clinton. É fato que a eleição de 2016 merece ser explorada, mas infelizmente não temos um panorama completo sobre o esquema russo por dois motivos básicos: em primeiro lugar, justamente a promoção política deste documentário, como se Clinton fosse uma grande injustiçada. Nota-se, a partir disto, que toda equipe democrata que é entrevistada neste projeto, como John Podesta, não admitem seus erros e colocam a derrota nas costas dos russos; também é triste notar a omissão do direito de resposta: por mais que Bryan não concorde com Trump ou com seus associados, em nenhum momento existe um entrevistado para mostrar um contraponto. Muito pelo contrário, a tendência é ridicularizar o presidente e a administração – como todo – com o uso de matérias jornalísticas que expõe os “piores momentos” de Trump e cia até o começo de 2018.
Isso não tira, no entanto, o mérito de Bryan, que traz ao público de forma relativamente simples a complexa formação política russa na era digital, onde a política de desestabilização é colocada como prioridade. Active Measures é o primeiro documentário sobre o tema. Dentro desta perspectiva, deve ser encarado como um ótimo ponto de partida para aprofundar as discussões sobre o tema – jamais como um eixo referencial.
NOTA: 6/10