A Academia anunciou duas mudanças de grande impacto no Oscar.
A primeira delas é o encolhimento da cerimônia para apenas três horas de duração. Como isso será possível? Bem, estudos recentes da Academia apontam que os índices mais baixos de audiência ocorrem durante as premiações de curtas – já que a esmagadora maioria do público não tem acesso a eles. A troca de canal é tudo o que as redes de televisão querem evitar. Por conta disso, essas categorias menores (e talvez umas duas técnicas) serão premiadas no intervalo da cerimônia – e posteriormente será editado e levado ao ar o anúncio dos vencedores. A justificativa da Academia é de entregar um conteúdo de alto nível durante as três horas, com entretenimento familiar. Sim, a cerimônia do Oscar é longa, mas esse cansaço pode ser consideravelmente diminuído com um apresentador que marque presença, com boas piadas e com segmentos engraçados, no melhor estilo dos late shows estadunidenses. Neste ano, a audiência geral caiu 20% – e o sinal de alerta foi emitido: ou a Academia muda sua postura, ou perderá contratos com altas cifras que envolvem as principais redes de televisão do mundo. O caminho optado foi o mais fácil, menos trabalhoso.
A mudança mais polêmica – que já tenho noção da completa falta de apoio em Hollywood – é a criação da categoria de melhor filme popular. Todos sabemos que a Academia não gosta de filmes de heróis e blockbusters. Estes, geralmente, têm uma narrativa voltada para o entretenimento puro, deixando de lado construção de personagens, boa montagem e coerência. Black Panther foi uma grande surpresa por mostrar que era possível um filme deste calibre tentar disputar a categoria de melhor filme, dada a ótima repercussão em Los Angeles. Não é a primeira vez que a Academia divide seu prêmio de melhor filme. Na primeira cerimônia, Wings e Sunrise levaram os prêmios de melhor filme e melhor produção artística, respectivamente. Atualmente, apenas Wings partilha da honra de ser considerado melhor filme (algo que eu acredito ser absurdo) – enquanto Sunrise é uma nota de rodapé.
É mais uma atitude que busca apenas melhorar a audiência. Decisão extremamente errada, por sinal. A categoria de melhor filme perde força, perde charme e irá segmentar a disputa. Sem dúvida a Academia visa que jovens assistam a cerimônia até o fim e torçam para que seu blockbuster favorito leve este prêmio de filme popular, mas qual o verdadeiro sentido disto dentro da lógica do Oscar?
Outra mudança, essa apenas para 2020, será a antecipação da cerimônia para 9 de fevereiro ao invés de uma data no final do mesmo mês, como é padrão. Isto irá redefinir todas as premiações de sindicatos. Duas são as opções: os sindicatos seguem a Academia e antecipam em três semanas suas premiações – ou seja, logo no começo de janeiro – o que é improvável; ou manter um calendário independente do Oscar – que tornará as premiações secundárias isoladas, já que o anuncio dos vencedores ocorreria após o fechamento da votação do Oscar. Ou seja, a dinâmica dos premiados pode mudar (e muito!).
No geral, lamento pelos três anúncios. É uma grande demonstração de falta de força da Academia. Uma integração maior com as redes sociais de uma organização que sempre foi isolada poderia melhorar a imagem e, quem sabe, atrair novos jovens. Essas ações foram geradas pelo desespero de manter bons índices de audiência – quebrando, justamente, tradições e parte do charme em torno do Oscar.
Waldemar D. Neto.