Destaque em Sundance, American Animals, escrito e dirigido por Bart Layton, é uma grata surpresa. Quando Hollywood monta um filme sobre um roubo, geralmente a construção da história segue uma padronização que foca nos personagens e no plano – sendo que este é testado para que tudo ocorra de forma perfeita no final. A série Ocean é um bom exemplo. Mas quando o cinema independente olha para os filmes de crime – neste subgênero de roubo – o traçado é bem diferente. A criatividade tem mais espaço, não existe uma fórmula pronta. É por isso que Layton entrega um filme de primeiro nível.
Inspirado na história real sobre a tentativa de roubo de livros raros na Universidade da Transilvânia, Spencer Reinhard (interpretado por Barry Keoghan) e seu colega, Warren Lipka (Evan Peters) descobrem que apenas uma bibliotecária guarda um livro estimado em doze milhões de dólares. A sala, sem muita proteção, permitiria um roubo que mudaria a vida dos jovens. Eles então começam a estudar filmes clássicos sobre grandes assaltos, recrutam mais pessoas e tentam colocar em prática um plano aparentemente simples.
O diferencial da história está na presença dos verdadeiros homens por trás desta tentativa de roubo. Seus depoimentos mesclam com a dramatização – e aos poucos notamos como a história é reescrita por eles – e também como eles têm memórias diferentes sobre ações que acabaram determinando o resultado final da operação. A constante quebra da quarta parede, neste sentido, funciona como um aliado do diretor no intuito de criar uma espécie de docudrama – repleto de informações valiosas.
O espectador, por sua vez, acaba envolto no planejamento e fica com uma pergunta na cabeça: será que tudo isto era realmente necessário? Os jovens buscavam dinheiro ou queriam um desafio, uma motivação? É interessante notar como o filme conduz a resposta – a partir dos depoimentos – para dissolver o mito do bandido legal, que não machuca ninguém e que fica milionário usando apenas a própria inteligência. Infelizmente American Animals não conseguiu bons contratos de distribuição ao redor do mundo. Seu lançamento nos Estados Unidos – terra onde poderia prosperar – ocorreu em poucas salas, e na Europa não deve ser diferente. Uma pena, tendo em conta as novas ideias para um gênero de filme que pede por uma renovação. Talvez nas plataformas de streaming consiga uma sorte melhor.
NOTA: 7/10