Um thriller que foge totalmente dos padrões estéticos e narrativos de nossos tempos. You Were Never Really Here (Você Nunca Esteve Realmente Aqui, no Brasil), dirigido pela ótima Lynne Ramsay, é um precioso filme que realmente merece ser assistido várias vezes para desvendar seus próprios mistérios e até mesmo novas possibilidades de interpretações e análises sobre desenvolvimento de personagens, narração e técnica.
Joe (Joaquin Phoenix) ainda vive com sua mãe. Ex-soldado e agente do FBI com claros indícios de estresse pós-traumático, ele especializou-se em destruir círculos de tráfico de crianças, recuperando filhas de magnatas que não desejam envolver as autoridades para evitar escândalos midiáticos. Conhecido por sua técnica e por ser extremamente discreto, seus serviços são recomendados ao Senador Votto (Alex Manette), que deseja recuperar sua filha, Nina (Ekaterina Samsonov). Mas aos poucos Joe compreende que este caso é muito maior do que qualquer outro que trabalhou anteriormente por envolver pessoas do mais alto escalão político.
Temos aqui um bocado de cenas memoráveis que mostram a qualidade do trabalho de Ramsay. Em determinada tomada, quando Joe carrega sua mãe para dentro de um rio, temos uma combinação perfeita de trilha sonora com fotografia, sendo que ambas são perfeitamente amarradas pelo impacto narrativo. As poucas linhas de diálogo apenas comprovam o incrível potencial de Phoenix, talvez o melhor ator de sua geração.
Vi várias comparações que colegas dos Estados Unidos fizeram entre este filme e Taxi Driver. Considero válido, até certo ponto, expandir este tipo de discussão se o intuito for de promover o impacto final de Ramsay a partir de uma justa lembrança a um clássico incontestável. Entendo, no entanto, que a produção tem capacidade de se sustentar por si própria pela forma como o desenrolar da história é levado ao público.
Seis anos após We Need to Talk About Kevin, Ramsay entrega aos cinéfilos um dos grandes thrillers desta década, que realmente impressiona pela limpeza e polidez da história a tal modo de tornar obrigatória a leitura do livro de Jonathan Ames, base do filme. Se tivesse que escolher representantes do cinema art house deste século para uma análise acadêmica, colocaria tranquilamente You Were Never Really Here ao lado dos longas de David Lynch.
NOTA: 8/10