2017 foi o pior ano da história da Paramount, pelo menos no que diz respeito a premiações. Downsizing (Pequena Grande Vida, no Brasil) – a grande aposta da companhia – deixou o circuito de cinema nos Estados Unidos com resultados pífios de bilheteria. Apesar de compreender a decepção geral, tendo em conta o elenco de peso e a assinatura de Alexander Payne, que passou quase três anos trabalhando apenas neste projeto, consigo salvar algumas ideias interessantes deste filme.
A premissa, por exemplo, é excepcional: os noruegueses descobriram uma forma de encolher pessoas e objetos na escala 1/12. Logo o mundo é tomado pela campanha para popularizar o “downsizing”, salientando o baixo custo de vida e mostrando que essa fórmula poderia ser a resposta para a destruição do planeta pelo homem. Encantados pela ideia de viver em uma mansão de luxo e possuir itens que jamais conseguiriam na “vida real adulta”, o casal Paul e Audrey Safranek (Matt Damon e Kristen Wiig) embarcam na jornada. Se despedem de amigos, vendem seus bens e deixam Omaha para trás para viver o sonho de Leisureland, que abriga curiosas figuras como Dusan (Christoph Waltz), Joris (Udo Kier) e a doméstica Ngoc Lan (Hong Chau).
Sempre digo que neste tipo de filme, quando é visível que existe uma boa fé do diretor e uma paixão pelo tema de análise que acaba cegando os produtores dos erros que afetam a coerência, o lançamento da versão em home video acaba trazendo algumas confissões interessantes, Neste caso, o Blu Ray de Downsizing oferece um conteúdo extra satisfatório, que realmente deixa claro o quanto Payne estava preocupado e engajado em trazer a pauta ambiental. A cegueira que mencionei é escancarada na metade final do filme. Toda a empolgação da ideia de encolher perde força aos poucos – e chega em um ponto onde existe erros grosseiros de continuidade. Tudo para ressaltar a necessidade de mudanças no mundo. O problema – e o que considerei incompreensível, tendo em vista a filmografia impecável de Payne, foi o deslocamento de um romance para sustentação da linha narrativa. O diretor, portanto, tenta abraçar e agradar a todos, mas na verdade deixa vácuos assustadores.
Matt Damon é um ator competente, mas em Downsizing acaba perdendo espaço para dois coadjuvantes extraordinários: o primeiro é Waltz, sempre brilhante; a outra é Hong Chau, grata surpresa, que consegue desenvolver bem seu personagem, mesmo com restrições impostas pela história. Quando a Paramount notou, ainda em dezembro de 2017, que dificilmente seria indicada a algum Oscar, começou uma forte campanha para que Chau fosse indicada ao prêmio – pelas minhas contas foi a sexta atriz mais lembrada pela Academia.
Downsizing não é extraordinário. Longe disso, está envolto em uma produção problemática que não soube nem mesmo fazer o marketing do longa que estava promovendo nos cinemas. Mas creio que os minutos iniciais acabam estimulando a imaginação e colocam em discussão temas relevantes.
NOTA: 5/10