Josef Stalin foi um dos maiores genocidas da história da humanidade. Milhões foram mortos entre massacres e expurgos (Norman Davies fixou o número de 50 milhões de vítimas durante o regime Stalin). Fiquei surpreso com a condução da comédia The Death of Stalin (A Morte de Stalin, no Brasil), dirigida por Armando Iannucci. Apesar de envolver temas complexos, como o legado do ditador soviético, suas polêmicas e seu conturbado grupo íntimo, existe um tom de humor negro hilário que torna o filme relevante e impactante.
Após receber um bilhete de uma pianista que o acusava das mortes de amigos e familiares, Stalin sofre um derrame cerebral e fica entre a vida e a morte. Sem qualquer indicação do que devem fazer, Georgy Malenkov (Jeffrey Tambor), Nikita Khrushchev (Steve Buscemi), Vyacheslav Molotov (Michael Palin) e Lavrentiy Beria (Simon Russell Beale) tentam planejar a sucessão do ditador. Quando sua morte é confirmada, a organização do funeral acaba mostrando diferentes pensamentos ideológicos dentro do grupo. Após notar que a KGB havia tomado as posições do exército em Moscou, o Marechal Georgy Zhukov (Jason Isaacs) decide tomar uma decisão e acaba fazendo um complô para retomar a influência das forças armadas e punir o responsável.
Não tenho dúvida alguma que o espectador deve conhecer o mínimo da história da União Soviética neste período para aproveitar tudo o que o longa tem a oferecer. Neste sentido, é interessante ver que Iannucci preferiu seguir, na maioria das vezes, a história real (obviamente distorcida pela comédia) para dar liga a narrativa. Os casos e a importância de Beria e Khrushchev, por exemplo, somente podem ser analisadas por quem conhece os dois, já que não existe contextualização. Ainda assim, acredito que deve ser possível assistir ao filme e achar graça da narrativa original por si só, já que fica clara a sede pelo poder, a burocracia e as tradicionais facadas pelas costas – extremamente comuns neste período na URSS – que se fazem presentes no filme com o plano de fundo da morte do ditador, onde grupos políticos lutavam pela sobrevivência e pelo controle da União.
O sucesso do filme deve muito a excelente obra base Fabien Nury e Thierry Robin, que coloco em uma das cinco melhores graphic novel que já tive o privilégio de ler na minha vida. A adaptação para o cinema segue com perfeição várias histórias secundárias que tem seu próprio viés humorístico, como a orquestra apresentada na introdução. Por isso recomendo fortemente a leitura para quem apreciou este filme.
The Death of Stalin é uma excelente comédia. Constrói ótimos personagens e desenvolve a história de forma satisfatória. Apesar do culto a Stalin diminuir cada vez mais até mesmo na Rússia, o país decidiu banir o filme para evitar controvérsias políticas internas.
NOTA: 8/10