Para analisar Stronger (O Que te Faz Mais Forte, no Brasil), proponho a mesma linha de argumentação que fiz no ano passado com Patriots Day. É extremamente difícil planejar um filme sobre temas contemporâneos tendo em conta os problemas da memória recente (o pensamento ‘o que eu vou fazer no cinema pra ver uma história que já sei’ influencia muito). Neste caso, o atentado à maratona de Boston fica em segundo plano para dar lugar a história de superação de Jeff Bauman, o sobrevivente que virou símbolo da união da cidade.
Também considero extremamente válida a proposta do diretor David Gordon Green de iniciar seu filme mostrando um dia normal da vida de Bauman que mudaria para sempre a história de Boston. Green foi inteligente para absorver as críticas de Patriots Day – como a superexposição de elementos conhecidos do grande público – e desenvolver todo seu filme a partir da reconstrução pessoal de Bauman.
Jake Gyllenhaal – mais uma vez demonstrando seu talento em um personagem extremamente complexo – obviamente carrega o filme nas costas mostrando como Bauman conseguiu dar a volta por cima mesmo com o trauma que carrega até hoje. O bom trabalho do departamento de efeitos especiais e do pessoal da sala de edição, no entanto, não esconde as dificuldades sustentação do filme. Ao focar em Bauman, Green tinha em mãos a possibilidade de fazer um filme com uma forte pauta sobre pessoas com deficiência, dificuldades cotidianas, etc.
O grande problema de Stronger está na forma como o filme propõe ao espectador analisar o protagonista, a partir de uma visão bem delimitada que busca apenas suas vulnerabilidades individuais. Por este motivo o arco narrativo secundário, que trata sobre sua relação com sua namorada (Miranda Richardson) é comprometido pelo abuso do melodrama.
O filme teve um lançamento problemático nos Estados Unidos, que gerou várias dificuldades para sua distribuição internacional, coletando atrasos e cancelamentos. No fim das contas, Stronger é um filme tradicional hollywoodiano de superação com o pano de fundo de uma história que ainda está fresca na cabeça dos estadunidenses. Isolado de seu contexto geral, torna-se um longa comum que destaca-se apenas pela forte presença da principal estrela.
NOTA: 6/10