Irresponsabilidade histórica e anacronismos. Gosto muito do estilo do diretor Joe Wright (até a ponto de entender Pan, maior fracasso de sua carreira). Como historiador, no entanto, não posso lhe isentar pelos gravíssimos erros de condução apresentados em Darkest Hour (O Destino de uma Nação, no Brasil). Digo isso com extrema tristeza, pois esperava muito do longa e realmente acreditava que seu potencial era alto a ponto de ser um complemento perfeito para Dunkirk. A realidade, no entanto, mostra que a produção é um Oscar bait sem qualquer compromisso, armado em torno de Gary Oldman.
A história ocorre durante a crise do gabinete de guerra do Reino Unido, em maio de 1940. Logo após Neville Chamberlain (Ronald Pickup) deixar o cargo de primeiro-ministro, Winston Churchill (Gary Oldman) é indicado pelo Partido Conservador para cumprir a função, levantando suspeitas do Rei George VI (Ben Mendelsohn), que preferia o Visconde Halifax (Stephen Dilane). Durante o período mais crítico da história do Reino, com Hitler dominando a Europa e com as forças britânicas encurraladas em Dunquerque, o foco está nas decisões de Churchill.
Antes de qualquer crítica, deixo claro que o papel de Oldman é bom. Ele é um excelente ator, e, como mencionei anteriormente, teve linhas de diálogo e tomadas montadas apenas para destacar sua qualidade. A ambientação também é boa, com reconstrução cuidadosa de pequenos detalhes que eram essenciais para o cotidiano britânico (com o metrô, por exemplo).
O desastre está na condução do roteiro desleal assinado por Anthony McCarten. Fiquei extremamente incomodado com a necessidade de colocar Churchill como herói ao mesmo tempo que Halifax e Camberlain são deslocados para vilões, a partir do momento que tentam um acordo de paz com Hitler. Aos olhos da história, uma tremenda injustiça. Halifax foi de vital importância para trazer os Estados Unidos para a guerra, por exemplo, mas no filme atua quase como um agente alemão desesperado por uma acordo de paz forçado.
Darkest Hour, como o nome sugere, trata sobre o período mais difícil da história recente do Reino Unido. Se não bastasse o drama da época, Wright trata de ampliar e criar elos melodramáticos para dar vigor aos discursos. Em determinada cena, Churchill faz uma viagem de metrô, fala com o “povo” e usa isso como argumento dentro do gabinete de guerra para ampliar os esforços de guerra, algo completamente desnecessário.
Um filme não precisa ter compromisso em contar com detalhes e com perfeição todos os detalhes de determinado recorte. No entanto, também não pode criar desvios para sustentar uma visão fechada e uma narrativa anacrônica, como ocorre aqui.
NOTA: 5/10